Repúblicas

A polêmica das repúblicas de estudantes que atrapalham o sono da vizinhança, em Maringá. O texto é de Valdemir Barbosa, escritor e acadêmico de Jornalismo:

Os moradores dos bairros em torno da Universidade Estadual de Maringá (UEM) têm feito constantes reclamações por causa do barulho provocado pelas repúblicas de estudantes, que nos fins de semana fazem festas até altas horas da madrugada. O barulho incomoda a vizinhança, seja dos prédios ou residências, que não consegue dormir direito, e até mesmo assistir um simples programa de televisão.
Na Zona 7, principalmente, onde há uma concentração maior de estudantes nas repúblicas, a situação é mais grave, os moradores chamam a Polícia Militar, mas após a viatura ir embora, o som alto e a bagunça recomeça. Em alguns casos os moradores dessas repúblicas passam a ofender verbalmente os vizinhos pelo fato de chamarem a polícia, como se o errado fossem os vizinhos.
Os moradores da Zona 7 não querem uma solução para o problema. Mas o fato é que muitas pessoas não sabem como e onde reclamar seus direitos. Segundo o presidente da associação de bairros da Zona 7, Amauri José Pereira da Silva, “a associação tem poder de reivindicação, mas o cidadão tem o direito de cobrar do poder público”.
As denúncias podem ser feitas na Ouvidoria, através do número 156 e serão encaminhadas ao setor responsável da fiscalização geral.
Procuramos a acessória de imprensa e a guarda municipal para falar sobre o assunto, e fomos informados que a prefeitura já tem um projeto em andamento, mas, no momento, não pode dar maiores informações a respeito.
De acordo com Amauri José Pereira da Silva, “as pessoas podem fazer uma queixa crime, um boletim de ocorrência (BO). E se mesmo assim não houver solução para o caso, elas podem entrar com denúncia no Ministério Público que irá procurar os órgãos competentes, e investigar o que aconteceu. Por que a prefeitura não multou, por que a polícia não interveio de forma mais eficaz?”
“Nós pressionamos para criar a lei seca, o prefeito sancionou. A associação cobrou e a resposta veio com a criação da lei. A zona 07 é o bairro que mais gera receita para o município, é o que mais recolhe IPTU para a prefeitura, então precisamos que o executivo reconheça o bairro, assim como os demais, que olhe mais para seus moradores e que tome realmente providências com relação a estas repúblicas, com relação ao barulho que perturba a todos nós. Não temos nada contra os estudantes, sim com o barulho e o desrespeito com que alguns deles agem com relação aos vizinhos”, diz ele.
O presidente da associação de bairros da zona 07, ressalta que o bairro ainda não tem sede própria e que embora o perfil dos moradores do bairro tenha mudado nos últimos anos, é importante que eles interajam, reivindiquem e procurem a associação para discutir assuntos de interesse dos cidadãos.

De acordo com o secretário do Diretório Central dos Estudantes (DCE-UEM), Guilherme Zupo, 21 anos, a questão das repúblicas poderia ser em parte resolvida, se a construção da Casa do Estudante, que é uma reivindicação antiga, fosse levada mais a sério. Este projeto se arrasta por 30 anos, a pedra fundamental da Casa do Estudante lançada em novembro de 2010 até hoje não saiu da terraplanagem.
A primeira etapa é de 98 vagas para um total de 500 com a finalização da obra, ainda assim, é pouco diante do grande número de acadêmicos que se instalam na cidade. Este também é um dos diretos exigidos pela última paralisação na Universidade Estadual de Maringá, movimento que tem como prioridade entre esta, várias melhorias no campus.
Segundo Zupo, além da Casa do Estudante é necessário um espaço, uma área de convivência para que os estudantes possam ter seu momento de descontração, sem incomodar e serem incomodados. Os estudantes que moram em repúblicas, na grande maioria não têm dinheiro para sair ou alugar um espaço para fazer um churrasco, encontrar com os amigos, e a alternativa é fazer nas repúblicas. Além do mais o aluguel em Maringá é um dos mais altos do país, o que dificulta ainda mais o custo de vida de quem vem para cá para estudar. Se houver um lugar apropriado onde possam morar e se encontrar, será bom para ambos os lados.

O morador da zona 07, Moacir Klein, 58, diz “eu entendo que os estudantes que vêm de fora para estudar em Maringá, ficar longe da família não deve ser fácil. Mas muitos estão aqui para se divertir. Eu também já fui jovem, mas isso não dá o direito de perturbarem a paz alheia. Na verdade quem ganha com isso são as imobiliárias, que lucram com alugueis caríssimos de apartamentos e casas que se transformam em repúblicas, e elas são criadas, justamente para diminuir gastos, porque estudante universitário geralmente não tem dinheiro o suficiente para suas despesas. Sem contar aqueles que também se instalam na cidade para estudar em faculdades particulares.
“A Casa do Estudante, para os universitários, vem para ajudar aqueles que querem e precisam realmente estudar, para depois retornarem formados para suas cidades de origem”.