Lixo que não é lixo
De Donizete Oliveira:
Revirando meus papéis de escola encontrei uma redação, dos tempos do antigo segundo grau, classificada num concurso sobre reaproveitamento do lixo. O tema era “Lixo que não é lixo”. A participação me deu um prêmio. Uma viagem a Foz do Iguaçu com outros estudantes classificados. Fizemos um passeio divertido pelas cataratas.
Escrevi aquelas linhas na década de 80. Na época, morava e estudava em Apucarana. O então prefeito José Domingos Scarpelini, fervoroso ambientalista, incentivava a separação do lixo.
As escolas do município promoviam concursos de redação. Os estudantes discorriam sobre o tema. Os autores das melhores redações ganhavam viagens educativas. Uma visão inovadora para a época, pois hoje vemos em que estado chegaram os problemas gerados pelo lixo.
Poucas cidades dispõem de aterros sanitários. Muitas comportam lixões a céu aberto. Felizmente, se vê alguma evolução. O surgimento das cooperativas que recolhem lixo reciclável, por exemplo.
Está mais do que provado que o lixo pode ser fonte de renda para dezenas de famílias. É um processo longo. Ainda estamos engatinhando. Até mesmo países desenvolvidos, como os Estados Unidos, não têm uma coleta seletiva eficaz.
Embora o caminho seja a reciclagem. Não a incineração, como se propala em Maringá. Incinerar vai contra todos os princípios ambientais.
A situação do lixo em Maringá é grave. Moro aqui e sei que a cidade carece de uma solução urgente. Mas até hoje essa questão não foi colocada como prioridade.
Investiu-se em obras de vulto. Tudo bem! São necessárias. Mas o lixo é algo que está próximo de nós e do qual depende a qualidade de vida na cidade.
Essa questão deveria ser debatida com a população. Convocar reuniões com entidades e clubes de serviço e buscar uma solução em conjunto.
Não conheço o processo de incineração. Mas posso afirmar que não é o mais viável. Como disse acima, lixo gera renda. Pode ser reaproveitado. Queimar soa estranho num momento em que o mundo se volta para soluções ambientalmente corretas.
É preciso avançar na reciclagem. E Maringá já tem suas cooperativas. O que elas precisam talvez seja mais apoio. Não só do município. Também do setor privado.
Finalizei aquela redação que fiz lá nos anos 80 em tom pessimista. Disse que, dificilmente, iríamos resolver os problemas gerados pelo lixo.
Hoje, sou otimista. Bons exemplos não faltam. Ibiporã, a 15 quilômetros de Londrina, montou um processo eficaz de reciclagem. Claro, Maringá é outra realidade. Com seus 350 mil habitantes gera muito mais lixo.
Mas saídas existem. O primeiro passo é pensar no lixo que não é lixo.
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(*) Donizete Oliveira, jornalista e professor