Páscoa da ressureição

De José Luiz Boromelo:
A agitação é intensa. Pessoas amontoam-se em filas intermináveis, principalmente nas grandes redes de varejo. As crianças fazem a festa impondo suas vontades, com direito a choro e esperneio. Os pais atônitos, tentando satisfazer os insaciáveis pirralhos na busca pelo tão falado símbolo pascal. E eis que lá estão eles, de cores, tamanhos, sabores, formatos e preços dos mais variados. Há opções para todos os gostos e bolsos. Desde os tradicionais de marca famosa, com recheios refinados que inclui avelã e outras iguarias (muitos deles contendo brinquedos em seu interior) aos mais simples, sem tantos predicados. As cestas também estão com a procura em alta, incluindo diversos itens que variam de ovo a coelho, de urso de pelúcia a arranjos dos mais criativos possíveis. O que vale mesmo é o simbolismo da aquisição, se possível com bastante antecedência, fazendo uma boa escolha e com tempo suficiente para poder comparar preços. E nessa imensidão de ofertas, o produto mais bem apresentado ganha a preferência dos pequenos consumidores, que fazem questão de impor com energia sua irredutível escolha.
Nessa incansável busca pelo maior e melhor ovo de chocolate, o verdadeiro símbolo da Páscoa acaba sempre esquecido. Nosso melhor amigo não tem vez no dia marcado para saborear as guloseimas feitas com cacau. Naquelas festas regadas a bebedeiras e comilanças exageradas, não se permite a visita do ilustre homenageado. No coração e na casa de muitas pessoas, ele não consegue fazer sua morada. Sequer circula entre os participantes. O dia reservado para relembrar sua ressurreição tomou outro sentido, bem diverso do esperado.
As novas tendências da modernidade que incluem uma agitada vida social influenciam diretamente o cristão. Muitas vezes até a Quaresma, que é o tempo representado por quarenta dias de preparação para a grande festa cristã, a Páscoa, acaba esquecida. As penitências são deixadas de lado, e a época de renovação da fé é adiada mais uma vez. Afinal, não se pode deixar de participar de compromissos inadiáveis, tão relevantes perante a sociedade.
Mas o homenageado nos aguarda pacientemente. Ele nos espera a cada dia, sempre de braços abertos, para que possamos renovar os votos de fé e praticar o exercício diário do perdão. Deseja também que façamos uma análise de nossa consciência, e mostremos em nosso cotidiano um novo conceito de convivência. Nesses tempos em que a violência gratuita e exacerbada predomina, preparemo-nos para o grande dia. Amparados no auxílio providencial aos carentes, na doação de um pouco de nosso tempo em prol dos menos favorecidos na vida, impregnados do verdadeiro espírito cristão. Atitudes que em nada diferem entre as diversas crenças, mas que externam o verdadeiro amor ao nosso semelhante.
E nessa sociedade em que impera o individualismo e o egoísmo, deixemos de lado o orgulho, a soberba e a vaidade, e façamos o que o Filho de Deus nos ensinou. Assim como o Cristo que ressuscitou dos mortos (João 20, 1-9), aproveitemos a Semana Santa para refletir sobre nossas responsabilidades de cristãos conscientes empenhados em levar um pouco de paz àqueles que tanto necessitam, seja em forma de uma palavra amiga, de um simples, mas sincero abraço ou de atitudes verdadeiramente cristãs. Que tenhamos o bom senso de perpetuar as tradições consumindo o saboroso chocolate, mas também promovendo uma verdadeira ressurreição em nossa vida. Que possamos permitir a cada dia que a bondade nos invada a alma, que as diferenças sejam minimizadas e relevadas, que passemos a ver em nosso irmão a imagem e o semblante daquele que deu sua vida para nos salvar. Que façamos da palavra sagrada, em todos os momentos de nossa vida, uma verdadeira obra de Deus.

Marialva, PR, Abril de 2012.
Autor: José Luiz Boromelo
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