Do padre Orivaldo Robles:
O leitor, alguma vez, deu-se ao cuidado de observar os olhos daqueles com quem cruza nos horários noturnos de compras? Não nos shoppings, que aí não pisam plebeus moradores de arrabaldes da bela urbe. Mas ali na rua, no estirão bruto das calçadas malfeitas, que borbulham, nestas horas, de homens e mulheres a puxar de arrasto crianças com frequência tristes e mal nutridas. Revelam olhos baços de quem se acostumou à escassez de uma vida inteira de privações. E, contudo, erguida sobre labor honrado e digno, único que sempre conheceram. Estes são os que fazem o país crescer. Os que trabalham e produzem. Estão aí. Gastando. Pondo a girar a roda da economia. Apesar da miséria que recebem no fim do mês. São os reais construtores dos índices econômicos que tanto preocupam dirigentes da nação. É para a pobreza dos seus bolsos que se dirige a grita de anúncios, a zoeira de alto-falantes invasores da madrugada. Eles têm pés trôpegos e olhos cansados de tanto caçar uma alegria que nunca chega. Todo final de ano é a mesma ladainha. O Natal volta de novo. Faz renascer a esperança de que, desta vez, uma vez, quem sabe, conquistem o decantado feliz Natal e próspero Ano Novo.
Cá para mim, calculo ser esse o motivo da incômoda tristeza que muita gente vive no Natal. Vezes sem conta passou por esse dia. E alimenta a impressão de que ele só vem piorando. Tempo houve em passado assim nem tão distante, quando não se acendiam luzinhas, não se tocavam musiquinhas nas ruas, não brilhavam shoppings nem se entupiam calçadas com gente carregando pacotes e sacolas coloridas. Em compensação, os rostos estampavam sorrisos. Havia verdade nas palavras, confiança nos olhares, franqueza nos corações. Não essa violência que agora tanto assusta. Ninguém queria ser melhor nem mais importante que ninguém. O Natal se festejava com uma refeição mais caprichada e festiva. E com mais pessoas à mesa. Talvez a gente vivesse Natal no ano inteiro. Ou, pelo menos, tentava.
É… Acho que muita gente tem razão de ficar triste nos natais de hoje.
P.S. – Feliz Natal. Abençoado Ano Novo. Agradeço gestos e palavras de carinho que recebi. Até fevereiro os leitores estão livres de mim.