Os bancos, hoje

Do padre Orivaldo Robles:
padreorivaldoVocê já passou dos sessenta? Então não troque de banco. O melhor que lhe pode acontecer ao tratar de assuntos bancários é ser recepcionado pelo sorriso de um gerente conhecido. Ou de um funcionário antigo, que lembra o número de sua conta e sabe até os centavos do seu saldo. Você nunca descobrirá se estão sorrindo por amizade, por respeito ou gozação. Mas qual a diferença? Importante é que se interessam por seu problema e procuram resolvê-lo. Merecem gratidão por esse cuidado com velhos clientes, que nada entendem de banco, essa preciosa invenção feita para gadunhar nosso pobre dinheirinho.
Conheci um gerente, que bem cedo descobriu minha falta de intimidade com serviços bancários. A partir de então, quando me via chegar, se levantava, me recebia e conduzia-me ao caixa automático. Etapa por etapa, ia lendo as mensagens da tela. Como se eu fosse um analfabeto. Concordo que, dentro de um banco, me sinto analfabeto ou quase isso. Enquanto me ensinava, ele ria sem parar. Pacientemente, traduzia as dicas da máquina. Até eu, finalmente, acertar. Mostrava o jeito correto de inserir o cartão, apontava a tecla que eu não conseguia ver, mandava digitar uma senha que eu deveria saber de cor. Só que, quando eu mais precisava dele, virava a cara para o outro lado. Eu ali, me esfalfando em combinações numéricas até a máquina concordar, e ele, rindo. Sem olhar. O próximo cliente da fila é que não devia achar graça nenhuma. Quando eu tinha conta para pagar, era uma diversão para ele. Não agendava o débito automático para não perder as trapalhadas que eu fazia.
Ao mesmo tempo, era um homem de fé. Todos os domingos, lá estava ele, fielmente, com a família, na missa. Ao chegar, me cumprimentava com o sorriso que eu conhecia bem. Pode ser que, no fundo, não estivesse muito convencido do meu saber teológico. Que conhecimento podia ter de Teologia um pregador que se atrapalhava com um simples cartão bancário? Mas que culpa eu tenho, se a formação de década e meia de seminário, em meados do século passado, não me apresentou um caixa eletrônico? Era o tempo da escrita à mão. A gente só dispunha de minguados tostões. Banco para quê? Nem sabia entrar num. Fui acostumado a lidar com gente, não com máquina. Assim, ao meu lado, com a paciência de um Jó sorridente, ele era uma mão na roda. Mas, pela estranha política dos bancos, acabou transferido. Para tristeza de todos nós, que lhe queríamos muito bem. Sorte que na agência continua ainda uma caixa simpática. Eu chego e já vou para a sua fila. Coincidentemente, a dos velhinhos. Por vezes ela se demora, explicando coisas que idosos custam a entender. Sem perder o sorriso que não terão que lhe dar, quando atingir a nossa idade. Ela conhecerá todas as artimanhas que os bancos inventam.
Outro dia, ao pagar o IPTU num banco que não frequento, me senti uma barata borrifada com Baygon. Se não me tivessem ajudado, estaria lá até agora, me batendo. Você notou como em banco sempre há alguém perdido, mendigando orientação? Bancos são elegantes monstros, anônimos e cruéis. Sem coração nem rosto. Moem a carne e sugam o sangue de funcionários e de clientes. Você já viu um dono de banco? Algum dia falou com um? Bancos são conglomerados misteriosos. Invisíveis. Sem endereço. Submetem a si todas as pessoas e países. Eles mesmos não obedecem a ninguém.