“Ao mestre, com carinho”

domjaime
Do padre Orivaldo Robles:
1. No dia 29 de novembro (de 1956), lida a carta da nunciatura, uma curiosidade cheia de medo o fez consultar o mapa, investindo largo tempo no inútil esforço de localizar a cidade na qual viveria o resto dos seus dias. Maringá era por demais nova para figurar em mapas com mais de cinco anos, caso daquele que tinha em mãos. Naquele tempo, em toda Ribeirão Preto, como, de resto, possivelmente em todo o Brasil, ninguém conseguiria localizar em mapa aquela que seria denominada “cidade-canção”.
2. Dias depois daquele histórico 7 de dezembro de 1956, o futuro bispo recebeu em casa a visita de padre Germano José Mayer, palotino alemão, responsável pela paróquia Nossa Senhora da Glória, de Maringá, que seria elevada à condição de igreja catedral. Pôde enfim apreciar fotos da cidade e receber informações sobre a nova Igreja que lhe caberia governar. Pela primeira vez, teve o consolo de verificar que Maringá aparecia em mapa. Pelo menos naquele, aberto à sua frente, publicado pela Colonizadora Sinop, sediada em Maringá, que padre Germano tivera o cuidado de levar consigo.
3. Os mais antigos conservam viva a lembrança do “chora-paulista”, providencial invenção destas paragens. Consistia em uma lâmina com o fio voltado para cima, fixada em haste de ferro onde a “vítima” apoiava as mãos para raspar o barro da sola do calçado. Depois de algumas horas de uso, acumulava-se embaixo da lâmina uma montanha de barro, que secava em pouco tempo e exigia remoção completa, sob pena de anular toda a utilidade do limpa-pés. Depois do primeiro uso, devolver às roupas claras a cor primitiva parecia missão impossível. Em se tratando de veste branca, aí então era caso perdido: cor original, nunca mais. Camisa branca de Maringá se conhecia de longe, num simples bater de olhos. O branco aqui obtido no tanque revelava-se diferente de qualquer outro do resto do mundo.
São três tópicos, pescados ao acaso, no início do livro “A Igreja que brotou da mata – Os 50 anos da Diocese de Maringá”, que escrevei em 2006, no cinquentenário da instalação oficial da Igreja Católica em Maringá. Eles descrevem um pouco daquilo que o primeiro bispo veio encontrar nesta cidade, que ele nem sabia onde ficava. Naquela época, a vida por aqui era brava. Os mais antigos é que podem dizer como era enfrentar as feras deste sertão. Não as feras da mata, para as quais vinham preparados e lhes sabiam dar jeito. Duro mesmo era conviver com as outras feras, que por aqui reinavam como em terra sem lei.
E dizer que 56 anos são passados! O “bispo com cara de guri”, como a ele se referiu dom Armando Círio, arcebispo emérito de Cascavel, é hoje um venerando senhor de 97 anos. E, tirante a transformação do corpo – que dessa a idade a ninguém preserva – pode-se dizer que ele não mudou. Quem aqui chegou como estudante, aos 16 anos, e desde então com ele convive, pode testemunhar que ele nunca desaprendeu a lição de seu pai: ser como o jacarandá, que quebra, mas não verga.
Aos 97 anos, Dom Jaime continua o mesmo. Quem o conheceu (não importa se há cinco ou cinquenta anos) pode a ele se referir como ao mesmo homem. Que fez de sua vida uma inteira entrega a Deus e à Igreja.
À Igreja de homens e mulheres, vindos de pontos tão distintos e distantes para aqui, irmanados, comporem o extraordinário povo desta terra.