Bullying linguístico

Do leitor:
bocaÉ consenso que a linguagem falada serve, dentre outras, para comunicar, transmitir sentimentos e ideias, mas quando tive a oportunidade de trabalhar na alfabetização de adultos, pude verificar que as palavras faladas também serviam como meio para distinguir uma forma culta da língua e outra que estava associada a um processo educacional, que refletia a carência de uma escola pública de qualidade. Assim, a fala das pessoas, intrinsecamente, revela uma história de exclusão social e cultural, que ainda continua no Brasil.
Nesse contexto, a campanha do “fala certo” ou “sinal do saber”, que está em diversos locais da cidade, merece uma reflexão, pois omite que a fala dita errada, é resultado de uma exclusão social e cultural. Ademais, a língua culta não é a única que pode ser falada pela população, principalmente quando as variações regionais, neste Brasil continental, são um patrimônio cultural. Portanto, é ofensiva uma campanha descontextualizada, de quem parece sofrer de gastura ao ouvir “meio-dia e meio” e não “meio-dia e meia”, além de incentivar o “bullying” linguístico.