Comunicações
Do padre Orivaldo Robles:
Alguém aí é do tempo em que Paulo Pimentel governou o Paraná? Quando secretário da Agricultura (1961-65) iniciou o aprimoramento do rebanho bovino. Apelidaram-no Paulo Nelore. Uma de suas marcas como governador (1966-71) foi o avanço das comunicações telefônicas. Antes, era um custo falar com São Paulo ou Rio. Com o Exterior, só se a vítima tivesse a paciência de Jó. Pimentel imprimiu à telefonia paranaense grande salto de qualidade. DDD e DDI, que pouca gente sabia o que significavam, passaram a integrar o vocabulário de qualquer capiau desta região. Atualmente, acostumados a ligar, sem dificuldade nem demora, para qualquer parte do mundo, os jovens nem se interessam pelo sentido dessas siglas. Precisam de tradução. Sobreviventes de outras eras, nós sabemos que elas querem dizer, respectivamente, discagem direta à distância e discagem direta internacional. É bom que todos aprendam. Vá que algum examinador invente de colocá-las entre as questões de concurso que, um dia, alguém venha a prestar. Nunca se sabe.
No final dos anos 50 e na década de 60 do século passado, eu viajava com frequência para o interior paulista. Impressionava-me a perfeição das suas rodovias. Lá, cidadezinhas de quatro, cinco mil habitantes, que ninguém conhecia, ligavam-se ao resto do mundo por estradas pavimentadas, com boa sinalização, bem conservadas, algumas até de pista dupla. Por estas bandas quase não existia asfalto. No incipiente Norte Novo do Paraná, o asfalto estendia-se de Londrina a Apucarana. Tinha a cor terrosa deixada por veículos vindos da lama, se chovia. Na primeira vez que o viu, a tia Rosa perguntou: “Ué, aqui passam vermelhão no asfalto”? Era talvez o único asfalto do mundo que levantava poeira. Conversando com parentes do interior paulista sobre rodovias, eu não escondia o meu complexo de inferioridade. Cabia-me então explicar que nesta área nova do Paraná a estrada era a principal rua de todas as cidades. Tinha que cortar o centro urbano para garantir movimento ao comércio local. Se passasse fora, que cidades sobreviveriam?
Em compensação, havia um ponto que me permitia encher o peito e contar vantagem. Podia alardear que o Paraná era líder em comunicações telefônicas. De qualquer vila paranaense (eu exagerava, mas quem viria conferir?) podia-se falar com o mundo. Sem auxílio de telefonista.
Pena que, como tudo, também isso tenha mudado. Nossos carros, escandalosamente caros, vendem como pão quente. E vão atulhando ruas e estradas. Em nosso Estado, para duplicar dez quilômetros de rodovia, gastam-se o tempo de quinze e o dinheiro de dezoito. O antigo orgulho pela nossa telefonia onde está? Foi-nos arrebatado sem nos darmos conta. No passado, as prestadoras de serviço público eram conhecidas por nomes de final “bras”, quando nacionais; ou “par”, se estaduais. Mudaram tudo. Ninguém mais sabe quem cuida do quê.
Lista telefônica deixou de existir faz tempo. Ainda publicam, mas uma fininha. De propaganda mais que de endereços. A gente tem que consultar vinte amigos para achar um número de que precisa. Liga e escuta: “O número chamado não está disponível no momento. Por favor, tente mais tarde”. Tradução: quando você não precisar mais. Há uma gravação ainda pior: “A X (operadora) informa: o número chamado não existe”.
E aí? Quem vai consertar nossa cara de trouxas?