Do padre Orivaldo Robles:
No final dos anos 50 e na década de 60 do século passado, eu viajava com frequência para o interior paulista. Impressionava-me a perfeição das suas rodovias. Lá, cidadezinhas de quatro, cinco mil habitantes, que ninguém conhecia, ligavam-se ao resto do mundo por estradas pavimentadas, com boa sinalização, bem conservadas, algumas até de pista dupla. Por estas bandas quase não existia asfalto. No incipiente Norte Novo do Paraná, o asfalto estendia-se de Londrina a Apucarana. Tinha a cor terrosa deixada por veículos vindos da lama, se chovia. Na primeira vez que o viu, a tia Rosa perguntou: “Ué, aqui passam vermelhão no asfalto”? Era talvez o único asfalto do mundo que levantava poeira. Conversando com parentes do interior paulista sobre rodovias, eu não escondia o meu complexo de inferioridade. Cabia-me então explicar que nesta área nova do Paraná a estrada era a principal rua de todas as cidades. Tinha que cortar o centro urbano para garantir movimento ao comércio local. Se passasse fora, que cidades sobreviveriam?
Em compensação, havia um ponto que me permitia encher o peito e contar vantagem. Podia alardear que o Paraná era líder em comunicações telefônicas. De qualquer vila paranaense (eu exagerava, mas quem viria conferir?) podia-se falar com o mundo. Sem auxílio de telefonista.
Pena que, como tudo, também isso tenha mudado. Nossos carros, escandalosamente caros, vendem como pão quente. E vão atulhando ruas e estradas. Em nosso Estado, para duplicar dez quilômetros de rodovia, gastam-se o tempo de quinze e o dinheiro de dezoito. O antigo orgulho pela nossa telefonia onde está? Foi-nos arrebatado sem nos darmos conta. No passado, as prestadoras de serviço público eram conhecidas por nomes de final “bras”, quando nacionais; ou “par”, se estaduais. Mudaram tudo. Ninguém mais sabe quem cuida do quê.
Lista telefônica deixou de existir faz tempo. Ainda publicam, mas uma fininha. De propaganda mais que de endereços. A gente tem que consultar vinte amigos para achar um número de que precisa. Liga e escuta: “O número chamado não está disponível no momento. Por favor, tente mais tarde”. Tradução: quando você não precisar mais. Há uma gravação ainda pior: “A X (operadora) informa: o número chamado não existe”.
E aí? Quem vai consertar nossa cara de trouxas?