A farsa do candidato-gestor

Por Eduardo Siqueira:

É impressionante como nas últimas eleições a figura do candidato-gestor tem dominado o palanque das disputas para o Poder Executivo. É um discurso eficaz, bonito na aparência. O candidato-gestor promete administrar a coisa pública com a mesma eficiência, competência e lisura com que supostamente se administra uma empresa privada.

É evidente que ter experiência na administração de qualquer empreendimento, na liderança de grupos e pessoas, seja algo importante, louvável. No entanto, tão evidente quanto isso é a enorme diferença entre as administrações pública e privada.

O candidato-gestor quer ignorar isso, talvez por ingenuidade, talvez por má-fé, pura e simples. Ele explora o fato de que uma parcela grande do povo despreza seus governantes e instituições acriticamente, desprezam o “sistema” acima de tudo. O candidato-gestor diz que não é político, que quando estiver no governo não vai ser político. Tenta se descolar de todo jeito da imagem do político de carreira, sobre o qual, na sua opinião, costumam recair todos os vícios e formas de corrupção. Pretende ser o novo, o diferente, o bastião da nova política.

No discurso do candidato-gestor, o setor privado é uma fortaleza de moralidade e eficiência. Mas será que é mesmo? Já repararam na quantidade de empresas envolvidas em esquemas de corrupção, em subornos milionários, em sonegação sistemática e criminosa de impostos, na péssima administração de serviços públicos privatizados ou terceirizados etc.?

É claro que o setor público também não é um oásis de moralidade e eficiência. Mas o problema não são as instituições, e sim as pessoas que as comandam. Uma empresa estatal pode ser tão ou mais produtiva que qualquer empresa privada. Isso depende da responsabilidade e da competência do grupo que está no controle. O mito de que a gestão privada é, em qualquer caso, superior à pública é uma falsificação batida da propaganda neoliberal. Estatais renomadas, que hoje possuem gestão mista por conta da pressão do mercado (Petrobrás, Copel, Sanepar), oferecem serviços cada vez piores por preços cada vez maiores. Por quê? Porque hoje existe dentro delas uma matilha de gente salivando por lucro.

O candidato-gestor diz que vai ouvir a sociedade civil organizada para resolver os problemas de Maringá. Leia-se: vai ouvir a Acim. E não vai fazer política, vai ser apenas gestor. Ao que parece, pretende governar a cidade como um patrão, tomando decisões unilaterais ou restritas a uma oligarquia de sócios; demitindo e contratando trabalhadores segundo seus próprios critérios de competência e qualidade.

Ora, isso é mistificação, falácia grosseira, mentira deslavada. É preciso lembrar ao candidato-gestor que, além da Acim, existem outras associações, entidades, sindicatos, instituições, representantes dos mais diversos setores e entes federados que ele também deve ouvir para orientar seus projetos e embasar suas decisões. Uma pessoa que não sabe escutar, dialogar, negociar com aliados, colegas, subordinados, menos ainda com opositores, pode até ser um gestor razoável, gerente ou diretor de alguma coisa, mas será com certeza um péssimo governante. Sem traquejo político não se administra a constelação social da vida pública. E ter traquejo político não significa ser corrupto, significa conviver bem com as diferenças na sociedade.

Precisamos sim de bons políticos, precisamos sim de bons gestores no Executivo. O difícil é encontrar essas qualidades na mesma pessoa. Por isso, conhecer o histórico dos candidatos, não apenas as palavras fáceis da propaganda eleitoral, é essencial para uma boa escolha, ou pelo menos para uma escolha menos desastrosa.

Na véspera de mais uma eleição em Maringá, vejo que o cidadão comum não suporta mais candidatos que só falam para os ricos da cidade. Queremos democracia de verdade, não plutocracia. Precisamos de um prefeito que priorize, de fato, os maringaenses que vivem fora da bolha do centro e das regiões endinheiradas. Os trabalhadores e trabalhadoras pobres são os que mais necessitam do Estado, os que mais dependem de serviços públicos para ter uma existência digna, para ter aquilo que não conseguem arcar com os salários de fome que seus empregadores geralmente pagam.

Fazer política de Estado, em prol da justiça social, é melhor e maior do que qualquer caridade. Saber votar pode não resolver todos os problemas de Maringá ou do país, mas pode ser uma estrela de esperança no meio das trevas.


(*) Eduardo Siqueira, graduado em Letras e especialista em História pela UEM. Já atuou como servidor da Prefeitura de Maringá, conselheiro municipal do Comas e dirigente sindical do Sismmar. Atualmente é membro da direção do PCdoB de Maringá e servidor da Câmara Municipal