O ‘velho conhecido’ dos pernambucanos

Ao comentar reportagem de hoje do jornal O Estado de S. Paulo de que o governo federal comprou a vacina indiana Covaxin por um preço 1.000% maior do que, seis meses antes, era anunciado pela própria fabricante, o jornalista Fernando Castilho, do Jornal do Commercio, de Recife (PE), observou que chama a atenção no caso a presença de Ricardo Barros. Lembrou que Barros é um personagem influente no governo Bolsonaro e que já foi ministro da Saúde no governo Temer e defende os interesses da Precisa Medicamentos, representante do laboratório indiano, também defendeu ferozmente os interesses de uma outra empresa ligada à vacina, a Sputnik V (União Química) que está sendo adquirida pelo Brasil por US$ 12, por unidade, ao Fundo Russo de Investimentos Diretos.

Após citar uma bravata de Barros em relação à Anvisa, Castilho lembra que o deputado federal maringaense é um velho conhecido dos pernambucanos. Quando foi ministro da Saúde, ele tentou retirar da Hemobrás em Pernambuco a exclusividade de produtos derivados de sangue em favor da empresa paranaense União Química, que atualmente representa os interesses do fabricante russo da Sputnik V.

Entretanto, o deputado já esteve envolvido também com uma empresa ligada à Precisa Medicamentos, a Global Gestão em Saúde S. A. Por esse envolvimento Barros, referente à compra de remédios de alto custo que nunca chegaram às mãos de pacientes de doenças raras. O contrato foi feito no fim de 2017, quando o ministério era chefiado pelo atual líder do governo na Câmara foi processado e ainda responde na na Justiça Federal do DF e a Procuradoria pede que os réus paguem R$ 119,9 milhões, o que inclui ressarcimento e danos morais a pacientes.

O presidente da Global, Francisco Emerson Maximiano, também é sócio-administrador da Precisa. Apesar do processo envolvendo a Global, nenhuma das duas empresas está impedida de firmar contratos com o governo federal, que agora está sendo denunciado por vender vacinas por preços superfaturados. O que chama atenção no episódio das vacinas indianas é que tanto Francisco Emerson Maximiano, da Precisa, como Fernando Marques, da União Química, têm presença ativa no Congresso e proximidade com Barros e com o Governo.

A sua atuação foi decisiva na compra das duas vacinas através de um MP 1.003, de 19 de fevereiro último, que autoriza o Ministério da Saúde dispensar de licitação para comprar as vacinas Sputnik V e Covaxin, desenvolvidas respectivamente por laboratórios russos e indianos. Curiosamente os dois atos não tratam dos preços das vacinas nem as quantidades. Os dois extratos foram publicados em edição extra do Diário Oficial da União. Eles representam, juntos, o investimento de cerca de R$ 2,3 bilhões para a aquisição das vacinas. Foi destinado o valor de R$ 693,6 milhões da vacina Sputnik V, junto ao Fundo de Investimento Direto da Rússia, que no Brasil mantém parceria com a empresa União Química Farmacêutica Nacional.

Já o segundo artigo da MP liberou o processo licitatório a compra da vacina Covaxin, desenvolvida pela indiana Bharat Biotech, representada no Brasil pela empresa Precisa. O valor total é de R$ 1,614 bilhão. A descoberta de que, além da pressão pela aprovação da compra pelo Ministério da Saúde, como as atitudes de Ricardo Barros em defesa das duas acabaram virando uma nova linha de investigação da CPI da Pandemia no Senado.

“Em 2017, o senador e também ex-ministro Humberto Costa (PT-PE) acusou o ministro da Saúde, Ricardo Barros, de mentir à bancada pernambucana de deputados e senadores. Ele se referiu à instalação na cidade de Maringá, de uma unidade de produção do medicamento Fator 8 Recombinante, usado no tratamento de hemofilia. A fábrica seria a União Química, pertencente ao empresário Fernando Marques, mas o empreendimento nunca saiu do papel”, conta.