Preservar não é o forte das últimas administrações em Maringá. O que acontece com a chamada ‘revitalização’ da praça Napoleão Moreira da Silva, uma das mais bonitas do Paraná, certamente não ocorreria em cidades que preservam obras que fizeram sua história – e que respeitam seus autores. Ou alguém imagina Belo Horizonte alterando o conjunto da Pampulha, assim como o Ibirapuera e o Copan em São Paulo ou mesmo a sede da ONU, só para citar algumas das muitas obras de Oscar Niemeyer?
Depois que Silvio Barros II mandou derrubar a Estação Rodoviária Municipal, obra de arquitetura ímpar, parece ter sido aberta uma avenida para se fazer o que se quiser com os próprios públicos históricos. É o caso da praça Napoleão Moreira da Silva, obra do arquiteto paulista José Augusto Bellucci, o mesmo que projetou o Grande Hotel (Hotel Bandeirantes), felizmente tombado por iniciativa de Oscar Batista de Oliveira, e da Catedral Basílica Menor de Nossa Senhora da Glória. Apesar da assinatura de peso, estão “repaginando” algo que jamais poderia ser repaginada, só máximo restaurada para preservação, como soi de acontecer em cidades que preservam sua história.
Direto de São Paulo, apaixonado por Maringá e sua história, JC Cecílio diz que não quer nem ver, tal a coração em seu coração. Sua preocupação é que vão desfigurar o projeto arquitetônico de Bellucci – algo como mexer nos prédios que deram a concepção a Brasília. Segundo a prefeitura, um grupo de pessoas teria aprovado a intervenção. Cecílio defende, como outros, que se restaurasse os elementos como bancos e mureta, trocando somente o piso. Não substituir. “Estão dando conta há 60 anos. Que substitua somente o piso. Busto e palmeiras ficam onde estão também. A mais linda praça do Paraná durante os anos 1960/70. Obra artística e histórica”, analisa.
A praça desenhada por Belucci que Maringá está deformando foi construída numa quadra que não estava inicialmente para equipamento público. Toda a quadra havia sido desenhada inicialmente para ter lotes comerciais. Foi uma briga entre a Companhia Melhoramentos Norte do Paraná e o segundo prefeito de Maringá, Américo Dias Ferraz, que fez a CMNP utilizar a área como estação rodoviária e depois como praça, tendo contratado o profissional que desenhou, como já se disse, a Catedral e o Grande Hotel. Os tijolos que compõem a mureta foram produzidos pela própria CMNP e é daqueles materiais que não mais e encontra, devido à qualidade. Pelo que foi divulgado até agora, a mureta será refeita com material comum, descartável diante do que existe por lá desde o final da década de 1960. “As muretas com tijolos a vista fazem a harmonia com prédios como o Grande Hotel, prédio da CMNP entre outras obras cinquentistas. Uma solução seria restaurar os tampos das muretas e não mexer nos históricos tijolos muito bem assentados”.
(Fotos: Aldemir de Moraes/PMM/MN)