Nossa desconhecida herança africana

Hoje é dia de lembrar dos caboclos sutis, que viveram em Paiçandu

No Dia da Consciência Negra é dia de lembrar dos caboclos sutis. A história oficial não conhece esse pedaço de negritude do norte e noroeste do Paraná. Quem passa pela PR-323 rumo a Cianorte, pode avistar do lado esquerdo, logo após Paiçandu, uma gruta cercada por pedras. Um marco onde era o Cemitério dos Caboclos. Na década de 50, ali existia uma comunidade dos sutis. Pelas minhas pesquisas, eles vieram do sul do estado. Passaram por Ortigueira, pela Serra do Cadeado, Apucarana e chegaram à região de Maringá.

Em Paiçandu, segundo pioneiros que entrevistei, havia mais de 200 sutis. Viviam em comunidade na Gleba Paiçandu. Nômades, sobreviviam do que plantavam e da criação de animais. Os porcos, cujas manadas eram conduzidas por picadas no meio do mato, eram vendidos a 80 quilômetros dali, em Apucarana. Um povo festeiro. Faziam festas que duravam semanas. Por exemplos, as de São João, São Pedro e Santo Antônio. Eram cristãos, mas mantinham suas raízes africanas. Em Paiçandu, inclusive, havia um curandeiro, que atendia a comunidade e gente de fora que ia consultá-lo.

Dali, foram para Cianorte, formaram outra comunidade, participaram da fundação e dos primeiros anos daquele município. Chegaram a Japurá, onde existe a Água dos Sutis e na cidade a rua dos Sutis, que os homenageia. Fontes revelam que a chegada da colonização em Japurá os obrigou a seguirem em frente. Agentes colonizadores os teriam levados para Roncador. Por falta de adaptação teriam morrido de doenças provocadas pelo frio.

O pioneiro Joaquim Vicente de Castro, primeiro prefeito de Londrina, em depoimento ao historiador Victor Lôr, se refere aos sutis como um povo sonhador, que se orientava pelo mito do “campo da vaca branca”, verdadeiro paraíso terrestre que se situaria no oeste paranaense.

Conforme minhas condições realizo uma pesquisa sobre os sutis. A intenção é que seja meu projeto em um curso de doutorado. Os caboclos não foram inseridos na história da colonização do norte e noroeste do Paraná. É o que pretendo fazer. Revelar a herança africana nesse pedaço de chão.

(Texto e foto: Donizete Oliveira, jornalista e historiador.)