Banalização da maleta nuclear

À medida em que recebe apoio político, o sr. Putin sente- se à vontade não somente para se apoderar de áreas invadidas na Ucrânia

Têm sido tão frequentes as ameaças de ataque nuclear ao ocidente pelo mandatário russo Putin, que se tornaram rotina, como se não dissessem respeito às vidas de cada um de nós, mortais comuns. Ultimamente, entretanto, o premiê não se distancia da maleta nuclear acoplada não somente ao comando das Forças Armadas, como também a nada menos que 1.710 ogivas nucleares já implantadas, passíveis de complementação por outras 3.870 herdadas da ex- União Soviética, situação que confere à Rússia a liderança entre os demais integrantes do clube nuclear mundial: EUA, China, França, Reino Unido, Paquistão, Índia, Coreia do Norte e, possivelmente, Israel.

É verdade que a Rússia somente aderiu à manipulação da energia nuclear na década de 50, situação que custou a condenação à morte na cadeira elétrica do casal norte- americano Ethel e Julius em 1953, sob a acusação ainda posta em dúvida até hoje, de haverem repassado os segredos atômicos dos EUA aos russos.

A propósito, essa prática tem sido comum por lá. O norte-americano,Lee Harvey Osvald,foi morto sem julgamento aos 24 anos de idade, havendo deixado a esposa, Marina Oswald e duas crianças, no máximo pela suspeita de haver matado o então presidente John F. Kennedy.

Mais recentemente, o ex-presidente George Bush, interessado em controlar o petróleo do Iraque, em nome da ” guerra ao terror, determinou a invasão do Iraque sob a falsa acusação de que o país possuía armas de destruição em massa. Determinou a prisão e o enforcamento do líder Saddam Hussein.

Entre nós, é importante que a atual geração conheça o ocorrido no dia 06 de agosto de 1945, quando foi lançada a primeira bomba atômica na cidade japonesa de Hiroshima. O copiloto do avião B29 Enola Gay, ao deparar com a explosão ocorrida a aproximadamente 600 metros do solo, não se cansava de repetir: ” Deus, o que fizemos? Milhares de seres humanos sendo transformados em carbono. Homens e mulheres já não são mais que fósforos num círculo de 4.5 quilômetros do ponto central da explosão, a uma temperatura de 300 mil graus Celsius.Onde está a cidade de Hiroshima? Desapareceu num instante. O que é isso, meu Deus?

E a nuvem amarela em formato de cogumelo foi subindo e espalhando- se até alcançar a altura de 14 km, transformando em fumaça e fuligem o espaço ainda há pouco límpido e ensolarado. Milhares de outros mortos e feridos pelo envenenamento da radiação. Jamais será conhecido o número exato de vítimas, mas estimativas dão conta que entre Hiroshima e Nagasaki, elas fo ram superiores a 200 mil mortos.

Aos gritos, os sobreviventes exibiam queimaduras gravíssimas, ossos à mostra pelas carnes e músculos destroçados, doenças respiratórias, câncer. Durante muito tempo, quantidade imensa de bebês nasceram com deficiências acarretadas pelo envenenamento da radiação sofrida pelos pais. E toda essa tragédia foi acarretada pela explosão inicial de duas bombas nucleares de apenas 20 kilotons, muito distantes, portanto, das modernas bombas de hidrogênio.

À medida em que recebe apoio político, o sr. Putin sente- se à vontade não somente para se apoderar de áreas invadidas na Ucrânia, bem como na condição de “iluminado” restabelecer as antigas fronteiras da ex-União Soviética.
Você, eu, ninguém está livre ou seguro ante uma possível terceira guerra mundial.


(*) Tadeu França – professor universitário e ex- deputado federal constituinte.

Foto: Governo da Rússia