Camões, 500 anos

Luís Vaz de Camões deixou para todos nós, povos lusófonos, uma herança cultural preciosíssima

Em todos os países de língua portuguesa está em andamento uma série de comemorações alusivas ao quinto centenário de Luís Vaz de Camões. Serão dois anos de congressos, seminários e outros eventos enfatizando a importância do nosso poeta máximo.  

Em verdade, não se sabe exatamente onde e quando ele nasceu: uns dizem que em Lisboa, outros que em Coimbra; uns dizem que em 1524, outros que em 1525. O que se tem por certo é que em Lisboa ele morreu, num bairro humilde, no dia 10 de junho de 1580.

Morreu pobrinho… ele que serviu de modelo para a formatação definitiva do nosso maior tesouro, a língua portuguesa, “última flor do Lácio”, filha caçula do velho latim.

Sabemos também que Luís de Camões foi soldado do Reino e como tal esteve na África, na  Ásia e em outros tantos ondes, fazendo guerras, fazendo versos, fazendo amor. Metonímia perfeita das mais vulcânicas paixões.

Perdeu a visão de um olho, dizem que numa batalha no Marrocos. Mas com o olho que sobrou ele brigou, namorou, navegou, sobreviveu a naufrágios. Consta até que numa dessas escapou nadando com um só braço, enquanto com o outro sobraçava os originais de “Os lusíadas”.

Voluptuoso daquele jeito, Luís Vaz de Camões foi todavia o gênio maior da cultura lusíada. Ponte entre o passado e o futuro; entre os símbolos da mitologia pagã e os valores do pensamento cristão. Porta de saída da Idade Média; porta de entrada para a civilização moderna.  O poeta do Renascimento português, o poeta épico, o poeta filósofo, o poeta lírico. O poeta flama, com quem aprendemos que “amor é fogo que arde sem se ver;/ é ferida que dói e não se sente;/ é um contentamento descontente;/ é dor que desatina sem doer”.

Embora fosse um poeta erudito, inspirou-se com frequência em canções e trovas populares e escreveu poemas que lembram as cantigas medievais, nos quais revela acentuada sensibilidade para os dramas amorosos ou existenciais. A maior parte da sua obra lírica é composta de sonetos e redondilhas.

Em 1572, com ajuda do rei Dom Sebastião, Camões conseguiu finalmente publicar sua obra-prima, “Os lusíadas”, onde sintetiza as principais marcas da história de Portugal: o humanismo e as expedições ultramarinas – em especial a descoberta do caminho para as Índias por Vasco da Gama.

Luís Vaz de Camões deixou para todos nós, povos lusófonos, uma herança cultural preciosíssima. Agora nos convida para celebrar com ele, no parnaso eterno, seus 500 anos de poesia e amor. 

NOTA – Ao ensejo das comemorações pelo quinto centenário de Luís de Camões, programei para publicar aqui, a partir da próxima semana, uma pequena série de crônicas sobre a formação da língua portuguesa. Aos leitores interessados, sugiro que colecionem os textos.


(Crônica publicada na edição de hoje do Jornal do Povo)

Foto: Arquivo Nacional Torre do Tombo