Ninguém se atentou ao ‘Dops cultural’

Por qual motivo deixaram os vereadores aprovarem projeto que censura artistas?

Foi unanimidade! A Câmara de Maringá apreciou, nos dias 16 e 18 de julho, o projeto de lei 16.719/2023, da ainda vereadora Cris Lauer, que cria um Dops para os investimentos em cultura em Maringá. Numa leitura rápida, a matéria parece uma das tantas tolices aprovadas pela legislatura atual, que, não bastassem as centenas de nomes de ruas e homenagens, recriam políticas já existentes ou incentivos sem previsão orçamentária, projetos que não dizem nada com nada nem levam a lugar algum. Nesse caso, faltou que alguma assessoria inspirada destrinchasse o projeto de Lauer para encontrar a malícia por trás do texto, para visualizá-lo acontecendo na prática. Ninguém se atentou! Ninguém!

O projeto foi aprovado por unanimidade dos votantes, mas não dos presentes. Nas duas votações, tanto dia 16 quanto dia 18, ausentou-se do plenário no exato momento da votação a outra mulher da casa, a vereadora Ana Lúcia. Como em política nada é por acaso, e tendo em vista que a vereadora, em tese, analisou o projeto, já que o mesmo tramitou e recebeu parecer da comissão que preside, resta perguntarmos por qual motivo a parlamentar dita de esquerda não mobilizou os fazedores de cultura para encherem o plenário ou articulou com os pares para demove-los do voto favorável? Tendo estudado e sabendo do estrago que seria sua aprovação, por qual motivo decidiu refugiar-se no toilette em ambas sessões para não apresentar seu voto, para não registrá-lo na história? Teria a parlamentar, por acaso, planejado aparentar sintonia com os demais ao não se manifestar em plenário, antevendo os louros que receberia numa previsível votação de veto total ao projeto por parte do legislativo? Não seria um grande ato num espetáculo esdrúxulo de manipulação de público para tentar repetir, às vésperas da eleição, uma comoção ao nível do que foi a derrota do Conselho LGBT pelos vereadora de Maringá?

Chego a sentir o arrepio correr a coluna e a boca se encher d’água por nojo de que tal premeditação possa ter ocorrido. Esperemos que não. Tomara que não. Será que não?

PS – Espera-se que haja manifestação de ditos pré-candidatos em defesa da área cultural.