Ali é assim, como em todo lugar também é

Prefeito teria abaixado a cabeça, resignado, e fugido do olhar do indicado por ele para o cargo, que o serviu com lealdade e dedicação

– Pode juntar suas coisas. Você não trabalha mais aqui, disse o secretário municipal para cargo comissionado em reunião com a presença do prefeito. Na pequena sala estavam CCs para receber a pressão rotineira. O objetivo, mais uma vez, era separar os que estavam com o pré-candidato apoiado pelo prefeito e aqueles ainda indecisos, ou recolhidos no silêncio para preservar o cargo. No município em questão, o prefeito perdeu o mando há algum tempo, apeado do poder por um vereador, candidato à sucessão e ungido por ele.

O comissionado levantou-se e deu de dedo no secretário, elencando verdades e palavrões para uma plateia emudecida e, consta, salivando para reforçar os impropérios. Prefeito teria abaixado a cabeça, resignado, e fugido do olhar do indicado por ele para o cargo, que o serviu com lealdade e dedicação. O comissionado estava naquela situação porque não se alinhou ao candidato do prefeito e preferiu seguir outro nome, exatamente aquele que o alcaide prometeu apoiar e, por razões ainda desconhecidas, abandonou pelo caminho.

Episódios como esse se tornaram corriqueiros na cidade, com cargos comissionados sendo obrigados a aplaudir pré-candidato a prefeito, cuja rejeição sobe na medida em que encolhem as intenções de voto, sob risco de ser exonerado não pelo prefeito, mas pelo secretário, que já teria sentado na cadeira do alcaide e reclamado do desconforto ergonômico do móvel. A pressão sobre CCs e a dispensa apenas pelo desalinhamento com inquilino do gabinete chegou ao Ministério Público, que já coleciona denúncias.