O zero do Scabora e a ‘bala de prata’
A estimativa de custo anual do subsídio é bem frágil e se inspira na experiência de Caucaia, que paga R$ 24,5 mil por ônibus e R$ 3,50 por km rodado. O candidato promete, mas não diz de onde vai sair os estimados R$ 144 milhões/ano que custaria o cumprimento da promessa ou R$ 12 milhões/mês
Scabora promete zerar aliquota do transporte coletivo e a ‘bala de prata’ da campanha é avalizada pelo prefeito Ulisses Maia, que ao longo seus dois mandatos desrespeitou contratos com a empresa concessionária, bateu na mesa que não daria reajuste e acabou envolvendo o município em disputas judiciais e multa.
Antes de cravar o zero de Scabora na passagem de ônibus, é bom lembrar alguns episódios do prefeito com a empresa. De olho na reeleição, Maia começou a subir o tom com a concessionária logo no início do mandato. No dia 27 abril de 2017, recebeu o diretor da TCCC, Roberto Jacomelli, e não economizou nas críticas.
Cravou que não daria o reajuste pactuado em contrato e exigiu melhorias no transporte até 31 de maio (ou 34 dias) ou prazo para instalar ar condicionado em toda a frota e wi-fi, entre outras melhorias. Seguiu destratando o representante da empresa e, brabão, gritou, esbravejou, bateu na mesa e cruzou a linha do respeito exigido pelas circunstâncias.
Em diversas outras oportunidades adotou o mesmo comportamento com a empresa, muito semelhante ao que fez com a Sanepar, dando pirueta e jurando por todos os santos que municipalizaria o serviço a partir de decisao judicial que dava margem para o delírio. Não só recuou da decisão como agora sonha em presidir a empresa.
Depois dessa confusão toda, e, economiza-se nos episódios para não alongar o texto, Scabora e Ulisses cravam tarifa zero para transporte, como o faz também o candidato do PT, Humberto Henrique, mas de maneira mais cautelosa, propondo caminhar nessa direção na jornada que passa pela adoção da passagem por km rodado.
Aqui também cabem considerações, mas vamos ao zero de Scabora. O candidato promete, mas não diz de onde vai sair os estimados R$ 144 milhões/ano que custaria o cumprimento da promessa ou R$ 12 milhões/mês. Pior: a tendência é aumento significativo no uso de ônibus com a contrapartida de aumento no valor subsidiado.
O debate sobre tarifa zero sempre evoca o caso de Caucaia, cidade da região metropolitana de Fortaleza com 355 mil habitantes que adotou a medida em 2021. Mas os números são bem diferentes. Enquanto a cidade cearense tem 70 ônibus servindo 21 linhas, em Maringá são 235 ônibus para 65 linhas. No número de passageiros transportados, vale um recorte.
Hoje, Maringá transporta 100 mil passageiros/dia. Caucaia, deslocava 17 mil passageiros/dia antes da tarifa zero – ou 510 mil/mês. Após a adoção da tarifa zero, esse número cresceu quatro vezes. É razoável estimar reprodução do fenômeno na cidade caso a medida seja tomada, com impacto no custo do subsídio e necessidade do aumento da frota.
A estimativa de custo anual do subsídio é bem frágil e se inspira na experiência de Caucaia, que paga R$ 24,5 mil por ônibus e R$ 3,50 por km rodado. Numa conta sem grandes refinamentos, se multiplica a frota necessária para implementar a medida (dos atuais 235 ônibus para 270) e se tem R$ 6,6 milhões e se acrescenta R$ 3,50 a cada 1,5 milhão de km rodado mês (R$ 5,2 mi).
Há que se reconhecer que o modelo de transporte coletivo carece de constante modernização em todos os aspectos, a começar pela remuneração da empresa e o custo para o usuário. Mas não é com ‘bala de prata’, expressão usada em campanha para se referir a uma promessa com grande apelo para ganhar voto, que se faz isso. Soa a estelionato eleitoral.
Foto: Prefeitura de Caucaia