A derrota do prefeito e a falsa renovação


Os candidatos que permaneceram alinhados com a atual gestão enfrentaram não apenas a falta de recursos, mas também o desgaste de uma gestão amplamente rejeitada
Em uma eleição marcada por disputas acirradas e quase 400 candidatos a vereador, Ulisses Maia, surpreendentemente, se destacou – mas como o grande derrotado. Mesmo controlando a máquina pública, Maia falhou em eleger seu sucessor, Edson Scabora, e viu sua base política desmoronar completamente, a ponto de não eleger sequer um vereador. Para muitos eleitores, esse desfecho já era previsível, uma vez que a rejeição a Maia e Scabora era evidente nas ruas de Maringá. O distanciamento entre a gestão do prefeito e as reais necessidades da população refletiu-se diretamente nas urnas.
O que chama ainda mais atenção é que, embora Maia tenha sofrido essa rejeição, figuras como Flávio Mantovani e Akemi Nishimori, que se distanciaram de seu grupo político, foram eleitas com vitórias expressivas. Ambos conseguiram conquistar seus votos por mérito próprio, sem depender da campanha de Scabora. Mantovani, com seu trabalho pela causa animal, e Akemi, com seu sólido apoio local, mantiveram suas posições justamente porque não se associaram a uma gestão desgastada e marcada pelo cansaço popular.
Por outro lado, todos os que permaneceram fiéis a Maia e apoiaram abertamente a candidatura de Scabora viram seus votos despencarem. A derrota de Ulisses Maia não foi apenas um fracasso eleitoral, mas também um símbolo de algo maior: a clara mensagem de que os eleitores estavam exaustos de promessas não cumpridas e da falta de conexão com a realidade vivida pela população.
Contudo, o resultado das urnas trouxe uma contradição que expõe uma dura verdade. Apesar de o eleitorado clamar por renovação, o sistema político limitou essas opções. No fim, acabaram eleitos políticos com históricos questionáveis, como em ex-prefeito condenado por improbidade administrativa, uma vereadora acusada de enriquecimento ilícito etc. Até um defensor da causa animal, denunciado por supostos golpes em vaquinhas para arrecadar fundos, também garantiu uma cadeira no Legislativo.
Os candidatos que permaneceram alinhados com Ulisses Maia enfrentaram não apenas a falta de recursos, mas também o desgaste de uma gestão amplamente rejeitada. Partidos como MDB e PSB, que abrigavam muitos desses candidatos, não conseguiram sequer atingir o coeficiente eleitoral necessário. Enquanto isso, Domingos Trevisan, chefe de gabinete de Maia, concentrou seus esforços em poucos nomes, como Flávio Mantovani e Akemi Nishimori, deixando muitos outros candidatos à própria sorte – um erro estratégico que contribuiu para a derrota histórica do que se supõe chamar de grupo político de Maia.
Para os eleitores que participaram desse processo, o resultado trouxe um misto de frustração e resignação. Muitos se sentiram traídos por uma gestão que não cumpriu suas promessas, e agora, com os resultados à mesa, a sensação de “era o que já esperávamos” ecoa com mais força. A velha política, mesmo com o poder da máquina pública, já não consegue contar com a confiança cega do eleitorado, mas continua a se perpetuar, graças a um sistema que limita as alternativas.
Essa eleição mostrou que o desejo de renovação é real, mas que o sistema político atual ainda é uma barreira para que essa mudança se concretize. As opções que acabam sendo apresentadas são, em grande parte, mais do mesmo: políticos despreparados, figuras envolvidas em escândalos e um ciclo de corrupção que parece não ter fim.
A situação se agrava quando olhamos para a reeleição de Silvio Barros II, que anunciou ter deixado a prefeitura com mais de 40 processos e fez promessas não cumpridas há 20 anos. Seu retorno ao cenário político não representa a renovação que tantos esperavam, mas sim a continuidade de um ciclo de figuras já desgastadas que continuam ocupando o espaço político local.
Diante desse quadro, fica claro que tanto a gestão de Ulisses Maia quanto a reeleição de Silvio Barros II refletem o fracasso de uma verdadeira renovação política em Maringá. O sistema político local, seja com Maia ou Barros, continua oferecendo opções que não representam a mudança que a população deseja, perpetuando figuras comprometidas por escândalos e desconectadas das necessidades reais da cidade.
A conclusão que se impõe é inevitável: a renovação que tanto esperamos não virá apenas das urnas, enquanto continuarmos limitados pelas mesmas escolhas desgastadas. Portanto, a verdadeira transformação deve começar por nós mesmos. Precisamos trabalhar com honestidade, lutar por nossos valores e praticar o bem em nossas comunidades. Não podemos depender exclusivamente da política para as mudanças que queremos ver. Enquanto o sistema continuar oferecendo as mesmas figuras, cabe à sociedade se mobilizar e continuar pressionando por uma renovação genuína – mesmo que isso demore a acontecer.
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