Prefeito de Maringá, que copiará lei de Bento Gonçalves para oferecer empregos a quem recebe Bolsa Família, nomeia beneficiário do mesmo programa como gerente da SAS
Ontem, pela segunda vez em público (a primeira foi durante uma reunião da Amusep), o prefeito Silvio Barros II (PP), na primeira sessão ordinária da Câmara de Maringá, tocou no discurso que resolveu imitar de Bento Gonçalves (RS), distante 898 quilômetros da Cidade Canção. É de lá que a administração de Maringá tirou a ideia de ir atrás dos beneficiários do Bolsa Família para oferecer empregos, usando para a mesma lei do município gaúcho. O projeto prevê multa de R$ 7,2 mil para o beneficiário que estiver utilizando dados falsos para acessar o programa, além da cessão do benefício, destinado a famílias em situação de vulnerabilidade.
O prefeito Silvio Barros II (PP) disse ter na mira 2.187 maringaenses que, segundo ele, recebem o recurso irregularmente. Quem faz o cadastro para o recebimento do Bolsa Família é a própria Prefeitura de Maringá. A lista das 12.085 pessoas que receberam em janeiro está aqui.
No fundo a intenção é boa, afinal o trabalho dignifica o homem, mesmo que seja aquele que paga pouco. Mas o prefeito vai ter que começar dando exemplo: ontem, quando voltou a tocar no assunto, o Diário Oficial do Município de Maringá publicou o decreto 391/2025, nomeando Jhoone Martins de Souza, que se apresenta como o Apóstolo Joohne Martins, como gerente de Proteção Social de Média Complexidade na Secretaria Municipal de Assistência Social, Políticas sobre Drogas e Pessoa Idosa. Ele vai receber o GAS1, equivalente a R$ 6.145,73 mensais.
O apóstolo, que em rede social pediu voto para o vereador William Gentil (PP), de quem foi assessor em 2007, é beneficiário do Bolsa Família desde 2022. Ele reside no distrito de Iguatemi, onde fundou a Igreja Casa de Oração Semeando para o Futuro. Não foi encontrado o CNPJ da igreja, sem o qual não se obtém alvará na prefeitura. Ex-vendedor, ele não tem formação nem experiência técnica na área para a qual foi nomeado. “Evangelho da Graça. Cura Instantânea”, diz o perfil de Joohne no Instagram.
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O novo gerente de Proteção Social de Médica Complexidade da SAS é beneficiário do Bolsa Família, onde sua mulher Sabrina da Silva Siqueira Martins é a responsável familiar (R$ 960,00 mensais). Sua família recebe também outro benefício do governo do estado, o cartão Comida Boa (R$ 80,00).
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Assistência Social, Família e Combate à fome, a principal regra para ter direito ao Bolsa Família é que a renda de cada pessoa da família seja de, no máximo, R$ 218 por mês. Por exemplo, se apenas um integrante da família tem renda e recebe um salário mínimo (R$ 1.518), e nessa família há sete pessoas, a renda de cada um é de R$ 216,85.
O novo cargo comissionado tem ido se apresentar às equipes e conhecer a unidades que fazem parte de sua e tem se apresentado como formado em marketing, atuado por 10 anos em shopping de atacadista e hoje tem uma empresa e atua na igreja, o que contradiz informações que constam do Cadastro Único, onde consta que não exerce nenhuma função de trabalho formal.
Se a lei de Bento Gonçalves que pretendem implantar em Maringá estivesse em vigor, o Apóstolo Jhoone passaria por procedimento administrativo, assegurado o contraditório e a ampla defesa, e a própria secretaria na qual trabalha decidiria se houve ou não fraude. “O beneficiário do Programa Bolsa Família que for constatado utilizando dados falsos ou informações inverídicas para acessar o benefício estará sujeito às seguintes penalidades: I corte imediato do benefício:
II — aplicação de multa administrativa no valor de R$ 7.200,00 (Sete mil e duzentos reais): e III — inclusão em programa municipal de orientação para regularização e inserção no mercado de trabalho formal”, diz o trecho da lei que deve ser replicada em Maringá. Jhoone foi procurado hoje em sua gerência na SAS, mas estava numa capacitação; o secretário Leandro Bravin foi contatado, e disse que a questão era da Secretaria de Gestão de Pessoas. (Atualizado)