Servidores da fé

Há duas categorias de migrantes: os que buscam outras terras movidos pelo sonho de melhorar de vida e os que partem para o desconhecido impulsionados pelo ideal de servir os necessitados em nome de Deus

O então bem jovem padre francês Bernardo Cnudde (foto) estava recém-chegado para trabalhar na arquidiocese de Maringá. Levaram-no a uma festinha de aniversário do padre Fritz. Por ainda falar e entender quase nada em português, ele ficava meio de escanteio. Na época eu trabalhava na “Folha do Norte” e por acaso estava na reunião. De curioso, tentei puxar conversa. Aproximei-me e cantarolei: “Allons enfant de la patrie, / le jour de gloire est arrivé”…

Monsenhor Bernardo ergueu a cabeça e, com os olhos molhados, cantou completa a Marselhesa, emocionando fortemente as pessoas presentes. Não me lembro de jamais ter visto a saudade ser expressa com tanta ternura e ardor.

Bernard Abel Alphonse Cnudde (1939-2000) nasceu em Saint Saulve, Diocese de Cambrais –  França. Permaneceu por 31 anos à frente da paróquia do Divino Espírito Santo. Foi um dos sacerdotes mais queridos de Maringá.

Há duas categorias de migrantes: os que buscam outras terras movidos pelo sonho de melhorar de vida e os que partem para o desconhecido impulsionados pelo ideal de servir os necessitados em nome de Deus.

O primeiro grupo é formado por valentes desbravadores, graças aos quais se criam lugares como Maringá. São homens e mulheres de altíssimo valor. Como patrões ou empregados, promovem o progresso próprio e o do país.

O segundo grupo é o dos missionários – padres, pastores, irmãos, irmãs e outros voluntários. Deixam para trás qualquer projeto pessoal e se dedicam inteiramente à evangelização ou ao serviço em favor dos carentes. Estão nos hospitais, nos asilos de idosos, nos orfanatos etc., de modo mais forte nas aldeias mais distantes e mais pobres. 

A História de Maringá tem podido contar com centenas de servidores da fé que para aqui vieram de longe, desde o comecinho, para trazer sua colaboração e os seus exemplos de bondade.

Só Deus sabe a quantos sonhos esses homens e mulheres maravilhosos tiveram de renunciar – a terra natal, a família, uma profissão, Só Deus sabe como bateu o coração de um jovem como o padre Bernardo ao cantar naquele dia o seu lindo hino pátrio.

A população pioneira conviveu muito de perto com todos eles e todas elas e com eles e elas dotou a cidade de instituições sociais imprescindíveis, como o Albergue, a Santa Casa, o Lar dos Velhinhos e tantas outras.


(Crônica publicada na edição de hoje do Jornal do Povo)

Fotos: Arquidiocese de Maringá/Arquivo MN