Dúvidas no Contorno Sul

Duplicação pode empacar por conta das novas estruturas, que serão construídas após leilão da linha de transmissão, tendo de um lado a LT 230 kV Sarandi-Maringá C2, da Eletrosul, e o do outro por vias urbanas
Termina na quinta-feira o prazo para que agentes interessados no leilão de transmissão nº 4/2025, o único a ser realizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), enviem pedidos de esclarecimento com a comissão de licitação. Inicialmente está estabelecido o leilão de 11 lotes, com investimento estimado de R$ 7,96 bilhões e criação de 18.839 empregos diretos e indiretos. O leilão será realizado em 31 de outubro na sede da B3, em São Paulo (SP). Após a apreciação do texto prévio do edital pelo TCU, a diretoria da Aneel publicará o edital definitivo e o aviso de licitação.
Uma alteração a partir de contribuição na consulta pública nº 18/2025 estabeleceu o prazo de um ano para que a vencedora do lote 3 adapte as subestações terminais antes de assumir a linha de transmissão 230 kV Sarandi-Maringá C1, CS, etapa que deverá anteceder a implantação da linha de transmissão a ser construída. Essa é a linha que passa no Anel Viário Sincler Sambatti (Contorno Sul). Em junho, o governo estadual confirmou o repasse de R$ 400 milhões (valor depois corrigido para R$ 500 milhões, em julho) para a duplicação, em concreto, daquela via, que é urbana mas também utilizada para a ligação da BR-376 com a PR-317, sendo palco constante de acidentes.
O leilão da transmissão se destina à construção e manutenção de 1.178 quilômetros em linhas de transmissão novas e seccionamentos e de 4.400 megawatts (MW) em capacidade de transformação, além de um controle automático rápido de reativos e sete compensações síncronas. O prazo para conclusão das obras varia entre 42 e 60 meses. Por isso, a duplicação do Contorno Sul não vai ser uma obra tão fácil de ser feita.
No canteiro central da via existem lado a lado torres de transmissão de energia da Copel e da Eletrosul. As torres possuem vida útil e de acordo com a Copel confirmou que essa linha está em processo de devolução à União, para posterior realização de um novo leilão de concessão. “Esse leilão tem como objetivo viabilizar o aumento da capacidade de transmissão, a fim de atender ao crescimento da demanda de energia na região. Dessa forma, durante esse período de transição, a Copel não possui autorização para realizar quaisquer modificações ou intervenções na linha, conforme estabelecido nos procedimentos de transferência de concessão”. Assim, a possibilidade de redução da faixa da LT 230kV SDI-MGA para a execução de obras de melhorias no Contorno Sul é imprevisível.
Com a devolução à União será necessário realizar um novo processo que inclui consulta pública pela Aneel, e somente neste momento a Prefeitura de Maringá poderá apresentar as adequações desejadas e as justificativas pertinentes para avaliação. Nota técnica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que presta serviços ao Ministério de Minas e Energia na área de estudos e pesquisas destinadas a subsidiar o planejamento do setor energético, cobrindo energia elétrica, petróleo e gás natural e seus derivados e biocombustíveis, não faz referência sobre remoção ou compactação no Contorno Sul; pelo contrário, há possibilidade de ampliação para 426/570 MVA utilizado a mesma faixa de domínio, que por sinal já é invadida pelo pavimento do anel viárial atualmente. Pelas estimativas do estudo a data limite para esta obra não colapsar o sistema de transmissão é 2028. A obra prevê a substituição além de cabos e do posteamento de concreto por aço.
Na sexta-feira, durante seu programa no Canal 10, o deputado estadual Delegado Jacovós (PL) divulgou que um engenheiro da Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana teria se recusado a assinar documentos da duplicação do Contorno Sul. O engenheiro de trânsito, por sinal o único da Semob, está de licença não remunerada. De acordo com técnicos do setor, será difícil encontrar engenheiros que deem “ok” num processo que envolve o leilão da linha de transmissão. Além de ser questão da Aneel, na prática qualquer intervenção externa poderia ter impacto na distribuição de energia elétrica para cidades de todo o noroeste.
Segundo o governo do estado (veja vídeo ao final), a obra do Contorno Sul de Maringá está planejada para este ano e visa a duplicação de 12 km da via em concreto, “aumentando a segurança e a fluidez do trânsito, além de melhorar o escoamento da produção e facilitar o acesso entre Maringá e cidades vizinhas como Paiçandu, Sarandi e Marialva”. Até onde se sabe, a Secretaria Municipal de Obras Públicas estaria realizando estudos de como tratar a situação. Como existem normas sobre espaço mínimo para construção entre as torres, a possibilidade de desapropriação de imóveis laterais chegou a ser cogitada, mas como há muitas construções isso inviabilizaria a duplicação. O Plano Plano de Mobilidade Urbana de Maringá, de outubro de 2022, também aborda a questão do Contorno Sul.
Foto: Reprodução/EPE