Padres cantores


Zezinho, Marcelo, Antônio Maria, Gilson. Deixem que rezando cantem
Tem gente que aplaude; tem gente que desaplaude; tem gente que às vezes sim, às vezes não. Difícil achar alguém que nunca tenha falado alguma coisa contra ou a favor dos padres cantores. Estão certos ou errados? Estão na deles. Se têm vocação para o sacerdócio, mas nasceram com talento para a música, então beleza. Deixem que rezando cantem.
Padre Zezinho é o pioneiro nessa linha, porém é mais conhecido como compositor. Tem um repertório muito bonito e será ouvido ainda por muito tempo nas igrejas.
Padre Marcelo talvez seja o mais popular. Há muitos anos vem atraindo grandes multidões para as suas missas e shows. Como só fala e canta a favor do bem, que bom que continue falando e cantando.
Gosto bastante do padre Antônio Maria. Esse é realmente um senhor cantor. Quando gorjeia a “Ave-Maria no morro” arrepia o ouvinte. Um sabiá-laranjeira escalado por Deus para a missão de apóstolo.
Porém, de todos, o que hoje está mais no topo é o frei Gilson, um frade carmelita de 38 anos que chega a reunir mais de 300 mil pessoas num show. Ele tem também um programa na TV Canção Nova às 4 horas da madrugada, quando reza o Terço acompanhado por mais de um milhão de telespectadores. Seu público é em maioria gente jovem – moços e moças aos quais dirige mensagens serenas e esperançosas, visando à formação de uma geração generosa e livre de vícios.
Não é um galã sertanejo. Não é um ídolo do rock. É só um fradinho com jeito de menino, empunhando um violão. Um cantor-pregador bem simples, num palco sem grandes aparatos. Mas diante dele se formam plateias enormes cantando com ele, levantando os braços e repetindo com ele palavras de amor e paz.
Como se explica esse fascínio todo? Penso que seja empatia. O povo está carente de colo e ele sabe disso, então deixa que seus olhos e seu canto repitam o que Jesus dizia: “Venham a mim todos vocês que estão sozinhos, cansados, angustiados, deprimidos, desesperançados”. Ele diz isso com serenidade e doçura, e é isso que o povo procura, é isso que o povo quer.
Zezinho, Marcelo, Antônio Maria, Gilson. Deixem que rezando cantem.
Cantar é um dos modos mais bonitos de ajudar a humanidade a desembrutecer. Alguns deles podem até causar certa estranheza a uma parte do público, mas de qualquer forma trabalham a favor do bem. Nasceram com talento para a música e para a comunicação. Que bom que usem esse talento para juntar em redor deles milhões de pessoas que, cantando, conseguem trocar suas angústias por um pouco do céu.
(Crônica publicada na edição de hoje do Jornal do Povo)
Fotos: Reprodução