Sílvio, trovador honorário

Seis carros, conduzindo 22 menestréis, vieram chamando atenção das pessoas ao longo da rodovia, visto que traziam grandes cartazes com o letreiro: “A Poesia a caminho de Maringá”

No época Sílvio Barros (pai) era concessionário da Simca do Brasil, fabricante dos famosos automóveis Simca Chambord. Ele era vizinho da “Folha do Norte”, onde eu trabalhava, e todo dia dava uma chegadinha lá para tomar um cafezinho com o pessoal da redação e bater um papo, quase sempre sobre política.

Numa certa tarde, quando ele entrou, me encontrou reunido com um grupo de poetas: João Amaro Faria, Antônio Mário Manicardi, Dari Pereira, Agenir Leonardo Victor, Elidir d’Oliveira, Altino Borba e Dona Cenita. Estávamos falando sobre o Festival Brasileiro de Trovadores, que se realizaria em Maringá no mês seguinte.

Sílvio se aproximou, cumprimentou um por um e perguntou como estavam os preparativos. Explicamos que já havíamos garantido patrocínio para hospedagem, refeições, troféus e outras despesas, porém gostaríamos de oferecer também, aos poetas visitantes, uma ajuda para a viagem.

Ele deu uma pensadinha e de pronto respondeu: “Se vocês acharem viável, talvez eu possa colaborar. Justo no dia da vinda dos poetas vou trazer uma frota de seis carros zero de São Paulo para Maringá. Os carros virão só com os motoristas, sobrando espaço para mais quatro pessoas em cada um”.

Puxa vida… caiu do céu. Os poetas do Rio e de Minas se juntariam com os paulistas em São Paulo e dali até Maringá viriam confortavelmente nos Simcas. João Amaro Faria se prontificou para ir recebê-los em SP e guiá-los em caravana até aqui. Victor Hoffmeister, que trabalhava com Sílvio, foi junto.

Os seis carros, conduzindo 22 menestréis, vieram chamando atenção das pessoas ao longo da rodovia, visto que traziam grandes cartazes com o letreiro: “A Poesia a caminho de Maringá”. Em cada restaurante onde paravam para lanche havia um alvoroço, ainda mais porque faziam parte do grupo dois poetas então muito conhecidos: Luiz Otávio e J. G. de Araújo Jorge. Depois ficamos sabendo que os cartazes tinham sido mais uma gentileza do Sílvio. Ele havia telefonado para um funcionário da Simca pedindo que providenciasse o complemento.

Em reconhecimento, a diretoria da seção local da UBT (União Brasileira de Trovadores) homenageou o futuro prefeito e deputado Sílvio Magalhães Barros com o título de “Trovador Honorário”. É possível que Dona Bárbara tenha achado o diploma entre os papéis deixados pelo saudoso líder político maringaense.


(Crônica publicada na edição de hoje do Jornal do Povo)

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