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Irmão Mundo

Tudo o que existe tem alguma coisa em comum. Esse é o mais fascinante de todos os mistérios

Fico às vezes pensando que São Francisco de Assis poderia ter recebido, há 800 anos, o Nobel de Biologia. Ele foi provavelmente o primeiro a reconhecer que todos os seres somos parentes: Irmão Sol, Irmã Abelha, irmã Árvore, Irmão Passarinho…

Tudo o que existe tem alguma coisa em comum. Esse é o mais fascinante de todos os mistérios. Até nas bactérias a ciência já encontrou vestígios de similitude com o ser humano. De certo modo, temos alguma afinidadezinha até mesmo com os minerais.

A natureza é obra do Amor; por isso, tudo nela é correto e bom. É ela que, em nome do Criador, estabelece e monitora as regras da vida. Uma dessas regras diz que nós, seres humanos, somos ao mesmo tempo beneficiários de tudo o que existe e prestadores de serviços a toda a Obra da Criação. Somos todos interdependentes.

Pelos serviços que nós,  seres humanos, recebemos uns dos outros,  pagamos uma remuneração monetária (salários, honorários, proventos etc.) ou retribuímos mediante a troca de favores. Pelos serviços que recebemos dos seres não humanos, pagamos na forma de cuidados. Por sermos portadores de um grau maior de inteligência, nossa responsabilidade é também maior, competindo-nos, portanto, o dever de zelar da melhor maneira possível pela natureza inteira.

Mas até que ponto podemos pôr os outros seres a nosso serviço? Até onde a consciência e o bom senso permitirem. Uti non abuti (use, não abuse). Podemos usar, sim, de tudo o que for necessário, todavia com moderação, respeito e amor.

Felizmente temos progredido bastante nesse campo, não só pelas novas leis de proteção ambiental, como principalmente pela maior conscientização das pessoas. Hoje pouca gente aceita ver animais servindo apenas como puxadores de carga, objetos de diversão, mercadoria de comércio. Menos ainda vê-los sofrendo chicotadas e outros maus-tratos. O tratamento digno e amoroso aos outros seres passou a ser um dos indicadores mais importantes quando se avalia o grau de civilização de um povo.   

No sábado próximo, 4 de outubro, teremos o dia de São Francisco de Assis.

 Se ele estivesse hoje entre nós, seria um incansável protetor dos animais. Seria um vigoroso apóstolo da natureza, pedindo aos povos que continuem prosperando, mas sujando menos o ar e as águas; que continuem produzindo alimentos, mas usando com mais prudência os agentes químicos; que continuem construindo o que for necessário, mas sacrificando menos os bosques e as florestas.

Beijo-lhe as mãos, santinho querido. Mande uma bênção especial para o Irmão Mundo.    


(Crônica publicada na edição de hoje do Jornal do Povo)

Imagem gerada por IA

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