‘Polêmica completamente desnecessária’

Há casas de semiliberdade em várias cidades do Paraná, mas em Maringá até grupos políticos antagônicos se unem contra. Ele defende posição do prefeito Silvio Barros II e classifica o movimento contrário de “puro oportunismo”

Especialista que trabalha no sistema de unidades de medida socioeducativa que restringe parcialmente a liberdade de adolescentes infratores, permitindo que eles retornem para suas casas à noite e participem de atividades externas durante o dia, como estudo, trabalho ou profissionalização, defende a posição do prefeito Silvio Barros II (PP) ao defender a implantação de uma casa de semiliberdde em Maringá.

Há casas de semiliberdade em Umuarama, Paranavaí, Foz do Iguaçu, Londrina, Ponta Grossa, Cascavel – e Maringá não tem. “Por quê? Ficou emperrada tempos atrás aí, quando o Estado já tinha dado início ao processo de implantação, na zona norte da cidade. Só que o Estado meteu uma placa lá escrita: ‘Em breve, Casa de Semiliberdade’, e isso começou a gerar uma polêmica, na administração municipal passada, moradores fizeram uma manifestação e o ex-prefeito recuou”, lembra o profissional que trabalha na área e prefere não se identificar.

“Mas o Estado já investiu lá. Atualizado, está em torno de R$ 200 mil. Já fez toda a fundação, os ferros na parte de baixo já prontos. Só falta erguer as paredes”, explica. Trata-se de um projeto simples, é uma casa normal, com muro, não tem nem visão da a rua. É para abrigar, provisoriamente, no máximo oito adolescentes, a maioria em progressão de medida. Alguns estavam em meio fechado e em outros casos o juiz já determina para ele ficar na semiliberdade, depende da gravidade do ato infracional.

É um local bem tranquilo, tem toda uma equipe que assiste, como psicólogo, assistente social, tem os agentes, tem o serviço terceirizado de vigilância, com câmera de monitoramento. “Então é uma polêmica totalmente desnecessária, não é uma coisa que vai impactar em nada no bairro. É uma visão preconceituosa, no meu ponto de vista. É uma visão preconceituosa, higienista, que Maringá traz desde da polêmica da época do ex-prefeito Said Ferreira, quando foi instalada a Penitenciária Estadual de Maringá, inicialmente chamada de minipresídio, no limite com Paiçandu, dada à polêmica criada na época.

Ele considera que viu-se dias atrás algo surreal: uma manifestação contra a casa de semiliberdade reunindo grupos políticos ideologicamente antagônicos. “É por puro oportunismo, não tem outra explicação. Por que o que que aconteceu? O Silvio Barros II agiu de uma maneira correta. Ele se informou da polêmica e aí disponibilizou, para quem quisesse ir, uma van, que levou um grupo, junto com outros que tratam da relação com a comunidade. Ficaram lá quase que o dia inteiro. Depois foram para Londrina também, pra ver como funciona, conheceram o layout da casa por dentro, conversaram com os funcionários, com os meninos, com os vizinhos. Mas só que tem gente que não quer saber. Simplesmente acha que ali vai ser uma cadeia, que não tem nada a ver”, acrescenta.

De acordo com o especialista, o local abrigará no máximo oito meninos, e há autorização judicial para realização de cursos e para estudar. Maiores de 16 anos podem trabalhar em alguns tipo de serviço, e nos finais de semana eles não ficam na casa. “Eles, eles recebem o passe, muitas vezes até a família vem buscar ou coisa assim, e eles vão pra sua cidade de origem, depois voltam no, no domingo à noite ou na segunda-feira de manhã. Então, estão criando uma polêmica totalmente descabida”, no meu ponto de vista”, diz, elogiando a atitude do prefeito de manter o projeto original.

Ele faz uma observação: se a administração recuar por causa dessa polêmica, e levar para outro lugar, vai ter polêmica lá também. Tipo assim: ‘Pô, não quiseram lá, agora vem enfiar para cá.’ Quer dizer, é uma coisa sem solução, ou faz ali ou é um projeto perdido”. Lembra que se a prefeitura não construir no local escolhido terá que arrumar um outro terreno e ressarcir o estado.

O local pretendido, na região da avenida Tuiuti, é um fundo de vale, não tem vizinho de frente, fica ao lado de uma horta comunitária, e do outro lado fica a UBS da região, além de um campo de futebol suíço que é cuidado pela prefeitura, ou seja, trata-se de uma área para que os meninos possam realizar atividades, com toda a movimentação monitoradas. “É tudo muito criterioso, tudo muito monitorado. Qualquer situação é comunicado ao juiz, ele pode ter regressão de pena, ele pode voltar para o regime fechado. Então, ele tá sabendo disso a todo momento, e isso é sempre lembrado”, conclui, frisando que se o adolescente “tiver alguma intenção de aprontar, ele vai cair fora, não vai ficar ali”. Na primeira oportunidade que ele tiver pra fazer qualquer situação, como uma entrevista para emprego, qualquer coisa que é oferecida, ele deixa o local e não vai ficar causando problema ali. “É uma interpretação completamente equivocada de quem não conhece como que funciona. Não tem nada a ver com o abrigo [kids], igual esses que tiveram problemas. É algo completamente diferente”.

Foto: André Almenara