Do padre Orivaldo Robles:
Sei não. Há muito, venho refletindo sobre a nossa história de vida. Como se deram as coisas lá em casa, no nosso convívio de filhos com o pai. Concordo que pai e filhos não possam mesmo sustentar aquela amizade comum entre garotos, que pode partir para a irreverência. Não dá para aceitar que sejam amigos a ponto de um chutar o traseiro do outro, dar tapa na cabeça ou passar rasteira. Dois irmãos, por mais que se queiram bem, lá vez por outra, aprontam coisas do tipo. Familiaridade assim entre pai e filhos descamba para o desrespeito. Afora isso, não vejo o que impeça entre eles uma amizade real e profunda.
Desde que me lembro, o pai foi nosso amigo. Quando a cavalo, ele nos punha na cabeça do arreio ou na garupa, conforme íamos crescendo. Sempre junto de si e em segurança. Ensinou a fazer papagaio de empinar, estilingue e arapuca de pegar passarinho. A pescar de peneira. Quem aprendia era o Eraldo, três anos mais velho. Eu só ficava assistindo. Depois ia junto para conferir o resultado. A vida inteira, o chamamos de senhor. Tomamos-lhe a bênção de manhã e à noite. Para controle da situação bastava-lhe o olhar. Ou um leve “ram-ram” da garganta. A gente obedecia sem discutir. Também sem nenhum temor. Nem falso desejo de agradar.
Nunca lhe dei presente no Dia dos Pais. Morando na roça, nem sabia dessas coisas. Depois, me sentia velho demais para adotar o costume. Mas também nunca tive precisão de anúncio comercial para me convencer do seu valor. Lá em casa era simplesmente impensável a vida sem ele. Ninguém precisou me falar do amor de pai com data marcada. Meu amor por ele era coisa de sempre, não de dia escolhido. Mesmo que nossa família não fosse perfeita, como nunca foi. Hoje, decorridos trinta anos de sua partida, sinto ainda sua ausência. E lamento não lhe ter retribuído por inteiro seu amor de pai.