Do padre Orivaldo Robles:
Era domingo cedo. O homem pegou o jornal no jardim da bela residência e passava os olhos pelas manchetes. Foi quando viu um matinho à toa, na base da calçada, no fundo da casa. Como foi nascer ali, numa fenda do concreto? Qualquer hora eu o arranco, pensou o homem.
Após algum tempo, comprou uma chácara. Seus fins de semana tornaram-se bucólicos, como dizia. Os meninos não, mas ele e a mulher, por nada deste mundo, dispensavam a semanal fuga para o silêncio do campo. A rica mansão deixou de merecer a atenção de antes.
Anos depois, verificou que o matinho verde de um dia – na verdade, uma seringueira, aquela árvore que não produz borracha, mas se torna imensa – tinha rachado calçada, parede e ameaçava a estrutura da casa.
Historinha besta, dirá o gentil leitor. Imagine se alguém deixaria passar tanto tempo sem notar o risco que corria uma casa que custou tanto. É verdade. Quando há dinheiro em jogo, a gente cuida. Em se tratando de outros valores, nem se preocupa.
Muitos pais percebem, tarde demais, que perderam a melhor oportunidade de marcar presença na vida dos filhos. Não que não tivessem notado alguma plantinha a ser arrancada, com doçura, mas com firmeza, quando eram duas folhinhas de nada. Nem que não sentissem necessidade de transmitir valores humanos essenciais. Mas o nenê era tão pequenino…
A tarefa de educar começa no ventre materno, todos já ouviram. Mas quem acredita? Parece só afirmação de psicólogo em congresso. Pais reagem: “Ah, vá! Não preciso de palpite. Ninguém conhece melhor meu filho do que eu”. Quando os filhos atingem cinco ou seis anos, já fervilham preocupações e incertezas. Aos doze ou quinze, muitos pais se reconhecem francamente perdidos. Não raro, percebem que a belíssima casa, construída com tanto dinheiro, abriga um bando de desconhecidos. Está ameaçada pela ruína, que se vai instalando gradativa e irremediavelmente. O sonhado “lar, doce lar”, da placa fixada na parede da cozinha, converteu-se num espaço de solidão do qual cada um se esforça por se livrar o mais cedo que pode.
Princípios de solidez familiar – religiosos, éticos, sociais, comunitários… –, como chuva fina, só muito lentamente, conseguem impregnar os coraçõezinhos, moldando-os à semelhança do que experimentam em casa. É inútil esperar que crianças e jovens assimilem valores que não veem na prática dos pais.
Parece que a mania de recorrer à terceirização penetrou em nossas famílias também no que diz respeito à educação. Se não em todas, pelo menos em muitas. A babá, a creche, a TV, o(a) coleguinha, o(a) professor(a), o(a) catequista, o dirigente religioso, o psicólogo – estes são, para muitos pais, os que têm a incumbência de assumir o papel de seus convenientes substitutos. De dispensá-los da responsabilidade de presença e modelo para os filhos.
Trazer filhos ao mundo é compromisso íntimo, absolutamente pessoal. Não se delega. Formar bem a personalidade deles também não. Pai e mãe podem correr atrás dos recursos mais sofisticados que quiserem. Se falharem como educadores, babau!