Renato, Raul e uma pedra no nariz do árbitro

Renato Gonçalves, radialista

Não cheguei a ter amizade com ele. Mas foi um cara que marcou minha vida profissional. O ano era 1986. Eu correspondente do jornal Correio de Notícias, de Curitiba. Um grande jornal, que circulava por todo o Paraná. Eu fazia matérias de Apucarana e Arapongas. A sucursal era ali no Terminal Urbano. Naquele tempo, Rodoviária de Apucarana. Uma sala pelo lado de fora onde funcionava a Feira do Produtor.

Eu comecei no jornalismo de dentro para fora. Naquela época estava concluindo o ensino médio e mal sabia apurar notícias e escrever. O Odair, um sujeito envolvido com a imprensa da época, me arrumou uma vaga de repórter correspondente no Correio de Notícias. Eu preparava as matérias e ia às agências dos Correios transmiti-las via telex para Curitiba. Se estivesse em Apucarana fazia aqui; em Arapongas, nos Correios de lá.

O Club Athletico Paranaense veio jogar com equipe do Apucarana, no antigo Estádio Bom Jesus da Lapa. Atual Olímpio Barreto. Eu tive de fazer uma matéria e me atrasei. Não fui ao jogo. Aí veio uma mensagem da editoria de esportes de O Correio. Eles queriam um texto sobre o jogo para sair na edição do dia seguinte. Minha conhecimento de futebol sempre foi precário.

Mas tinha de fazer alguma coisa. Então peguei o telefone de discar com os dedos naqueles buraquinhos e liguei à Rádio Cultura AM, que transmitia o jogo. A secretária me passou para o estúdio. Quem atendeu foi Renato Gonçalves. Expliquei a situação. Ele de imediato se dispôs a me ajudar. “Foi até bom você ligar agora porque o árbitro acabou de encerrar o jogo”, disse. Um temporal de granizo desabara sobre Apucarana. Uma pedra atingira o nariz do árbitro.

Eu neófito, inseguro. Pacientemente, ele ditou o roteiro do que acontecera no campo, culminando com o abrupto encerramento da partida. Aí foi só colocar a lauda na máquina. Uma antiga Remington. Bastou seguir os comandos dele. Que alívio! Terminei de escrever e corri para os Correios para redigitar o texto no telex e enviar. A editoria de Esportes esperava a matéria para a edição do dia seguinte.

Outra atitude do Renato, que me marcou, foi na morte de Raul Seixas. No dia em que o “Maluco Beleza” partiu uma tristeza tomou de todos nós, fãs. Eu fora a São João do Ivaí. Sintonizei a Cultura FM, e ele deu a notícia. “Gente, tamanha perda, façamos silêncio”, anunciou. Ele tirou a rádio do ar por um minuto. Comovente!

Comoção que se repete com o anúncio da morte de Renato Gonçalves. Ele e Jamil Silva talvez sejam os pioneiros num programa de rádio diferenciado. Ambos começaram um programa que existe até hoje na Rede de Rádios de Apucarana. Naquela época, Cultura FM. A notícia seguida de comentários e opiniões. Triste, mas consolado por conhecer uma pessoa que marcara alguns momentos da minha trajetória jornalística.


(*) Donizete Oliveira, jornalista e historiador

(Foto: Redes sociais)