Depois da janela, a marcha da vergonha

Dirigentes prometem mundos e fundos para figurões se filiarem em seus partidos durante a janela, e só na reta final lembram da existência dos correligionários e militantes do cotidiano, das figuras comprometidas com o programa e a agenda do partido, sejam eles companheiros ou patriotas

E termina hoje, às 23h59, a chamada janela partidária, a famosa dança das cadeiras, o troca-troca de partidos para quem deseja concorrer às eleições deste ano com todas as bênçãos e incentivos de uma nova sigla.

Da parte dos partidos, o período da janela foi de muito trabalho para convencer e arrastar lideranças, com e sem mandato, por meio de promessas e acordos de todos o tipos de apoio e viabilização, para contabilizarem dentro de seu cálculos tais votações.

E chega a meia noite e um do dia 6 de abril. Quem se filiou, filiou, quem não se filiou e pretendia ser candidato nem precisa se filiar mais. Final de semana de descanso para os dirigentes partidários. Algum vão para Porto Rico, outros para Floripa, outros, ainda, ficarão em casa curtindo a família em paz e sossego. Surge a aurora do dia 08 e começa novo pega-pra-capar, mas agora interno. Momento de buscar à laço os filiados históricos das siglas para comporem suas chapas como candidatos a vereadores e vereadoras (principalmente), sendo este um dos movimentos tradicionais mais infames e degradantes de todo o ano eleitoral.

Dirigentes prometem mundos e fundos para figurões se filiarem em seus partidos durante a janela, e só na reta final lembram da existência dos correligionários e militantes do cotidiano, das figuras comprometidas com o programa e a agenda do partido, sejam eles companheiros ou patriotas. Eis que dia 8/4, no pós-ressaca do mercadão dos votos chamado janela partidária, começa uma peregrinação constrangedora destes dirigentes partidários, uma verdadeira marcha da vergonha, indo às casa de correligionários de 5, 10, 15 anos de partido, para implorar que estes se disponham a “ir para o sacrifício” buscando seus votinhos para completar legenda e dar mandato a qualquer um destes filiados de ocasião arrematados no mercadão da janela partidária.

No entrando, é sentido que não vai ser fácil para a cacicada de plantão lograr êxito em suas marchas da vergonha de 2024. Muitos filiados, dos mais variados partidos, estão desgostosos e pouco dispostos a cumprir este papel desonroso. Vários reclamam que passaram dois anos sem serem lembrados, que não veem projeto de construção de novas lideranças em seus partidos, e outros remoem a lembrança das dívidas de campanha que precisaram arcar em pleitos anteriores que acabaram elegendo forasteiros, gente que veio só pelo cálculo de viabilidade da chapa.

A política da matemática serve muito bem para os profissionais da política, mas desencanta e afasta quem crê nela como um instrumento de melhoria da vida da população e de transformação da sociedade.