‘O que esta cidade vai virar?’


O tema é sério, mas o utilizam indevida e politicamente em Maringá
Divido com os leitores opinião de uma maringaense que tem mais bom senso que boa parte dos vereadores da cidade. Existem coisas óbvias, obrigações e responsabilidades públicas e políticas, sobre as quais alguns são totalmente ignorantes – e a conversa de que muitos são novatos não cola. Cada ato incoerente, infelizmente, esconde motivos políticos, saindo em geral de pré-candidatos a deputado estadual que buscam uma fatia do eleitorado que não raciocina muito sobre o papel de cada agente público numa democracia..
Agora eis que sete vereadores, encabeçados por uma extremista de direita que, além de ter recebido auxílio emergencial na pandemia de covid-19, já disputou duas eleições e vai para a terceira no ano que vem, assinam uma portaria designando uma tal Frente Parlamentar da Família Cristã, para “apoiar iniciativas públicas e privadas voltadas à proteção e ao desenvolvimento de cada membro das famílias maringaenses”. Trata-se da primeira frente parlamentar (um ajuntamento de legisladores que muitas vezes é confundido com lobby) da história do Legislativo de Maringá, e não se voltou a problemas da cidade – que não são poucos e legalmente deveriam ser atribuição de legisladores.
A pauta de costumes, entenda-se, é coisa de quem não quer enfrentar os reais problemas da cidade. No caso da portaria, esqueceram os nobres edis que todos têm direito de ser ou não cristão, que existe uma Declaração Universal dos Direitos Humanos, elaborada pela ONU e, novamente portanto, não estão no seu perímetro. São bobagens ideológicas que nos deixam uma pergunta na cabeça: “O que será desta cidade?”.
A iniciativa, que não deveria sequer merecer um registro pois não se trata de matéria legislativa e tem claro viés político, prevê que a frente não se limitará a apoiar a realização de “programas de valorização da vida desde a concepção; de combate à violência doméstica; de apoio ao emprego e renda; de promoção da saúde física e mental; de combate ao uso de drogas; enfrentamento à sexualização infantil; programas de prevenção ao suicídio; programas de incentivo à proteção ideológica na infância e adolescência; programas de incentivo à leitura da Bíblia; programas de cuidados aos idosos; fiscalização e acompanhamento de materiais didáticos; e outros programas correlatos que contribuam para o fortalecimento das famílias”.
Ou seja, a frente com interesse político troca as atribuições de fiscalizar o Executivo e apresentar leis para “apoiar iniciativas (…) voltadas à proteção e ao desenvolvimento de cada membro das famílias maringaenses”, como se o restante dos problemas como segurança pública, saúde, educação, buracos nas ruas, coleta de lixo, administração, corrupção etc tenham deixado de existir. A possivelmente primeira frente parlamentar da Câmara de Maringá é um atraso imenso e de claro aproveitamento político. Tem gente que não nasceu para fazer a boa política, e sim para fazer firulas que não levam a nada, uma vez que cada poder tem seus deveres, competências e alçada.