Gestão municipal se iguala a de Silvio Barros II ao fazer a revisão do Plano Diretor

“Alegria e gozo aos representantes do mercado imobiliário”

Ontem aconteceu a primeira etapa da conferência de revisão do Plano Diretor na Câmara Municipal, organizada pelo Ipplam, e muita gente não acreditou no que presenciou durante as votações das emendas ao texto.

Utilizando-se do modus operandi do ex-prefeito Silvio Barros, de quem foi chefe de gabinete, a gestão de Ulisses Maia praticamente jogou no lixo diversos estudos do Ipplam para se dedicar a dar alegria e gozo aos representantes do mercado imobiliário.

Como em toda a conferência, boa parte dos delegados é do poder público, que por sua vez escolhe cargos comissionados para cumprirem a tarefa, estrategicamente. Num movimento sincronizado, cartazes de delegados do setor imobiliário e de secretários, superintendentes e gerentes se levantaram para jogar no lixo diversas diretrizes, que foram fruto de anos de estudos e diagnóstico do Ipplam (atenção: isso é uma ironia), a troco de garantir benefício exclusivo de empreiteiros. Teve empresário nominando secretário e falando a plenos pulmões: ‘Fulano, hoje o almoço da turma é por minha conta’.

Chegou-se ao cúmulo de aprovarem ampliação de perímetro urbano para contemplar pequenos terrenos de propriedade de alguns dos empresários presentes, num malabarismo criativo de decidir microzoneamento onde só caberia discutir o macrozoneamento. Falando em macrozoneamento, diversas regiões terão seus zoneamento (que foram fruto de pesquisa, análises e diagnósticos do Ipplam) alterados completamente para contemplar o interesse de alguns poucos empresários em detrimento da coletividade.

O Ipplam de fato, existe para planejar, mas se na hora de referendar os resultados destes esforços a gestão Ulisses, tal como Silvio Barros II e Carlos Roberto Pupin, arregimentar seus cargos comissionados para contar contra o próprio Ipplamn, qual o sentido dele existir? Talvez exista só para criar uma tintura política que tente diferenciar o atual do ex-mandatário.

Registrem-se algumas situações constrangedoras, como o secretário de Urbanismo e Gestão, Estevão Palmieri, o superintendente da Assistência Social, Josivaldo Reis, e o secretário de Cultura e que figura como nome a do PSB para a Câmara, Victor Simeão, votando contra destinação de recursos para a construção de habitação de interesse social, e o curioso voto do presidente da Rede Sustentabilidade e também cargo comissionado na Gerência de Diversidade, Saulo Gaspar de Oliveira, que votou contra o aumento da área de vedação a pulverização de agrotóxicos de 300 para 500 metros em Maringá.

Com relação à diferença de método de sincronicidade entre a equipe de Silvio Barros II e Ulisses Maia é a utilização da tecnologia (Maringá é cidade inteligente, já diria o prefeito): Com Silvio, os comissionados esperavam que um secretário fizesse um gesto à mesa dos trabalhos sinalizando voto sim ou não, já com Ulisses, teve grupinho de zap e um dos capa-pretas da gestão sinalizava ali para onde iriam os votos. Tanto numa situação como na outra, todas as três últimas gestões de Maringá optaram pelos especuladores e imobiliaristas.

Seguimos sendo a melhor cidade para se viver sendo rico e a melhor cidade para se investir sendo imobiliarista. Já para os trabalhadores, esses que morem em Sarandi, Paiçandu, Floresta ou Mandaguaçu.

PS – A primeira conferência do Plano Diretor, quis o destino ou alguém, aconteceu um dia após o lançamento de um grande empreendimento, que pretende elevar ao menos 10% a população da cidade. O governador Ratinho esteve presente. Ou seja, a badalada qualidade de vida pode ter prazo para acabar.

PS2 – O ex-presidente do Ipplam saiu após termo com o Ministério Público por causas digamos semelhantes. Desta vez, assume-se que o instituto é que causou, com seu microzoneamento, o que o ex-deputado Valdomiro Meger chamou a política, “um balcão de negócios”, que agora está beneficiando ao menos dois políticos locais. E pensar que Silvio Barros II foi condenado também por algo semelhante, na questão do parque industrial, transformando a prefeitura num centro imobiliário.

Ilustração: Arte s/ reprodução YouTube